Preciso sair dessa festa!
José Luís era um jovem muito
bem-apessoado e conheceu uma jovem ruiva, chamada Bernadete. Ele a conheceu num
passeio que fez ao shopping. Ambos tinham um amigo em comum, era o Tião, e foi
ele que apresentou a ruiva para José Luís. Trocaram telefone e se encontraram
algumas vezes, até que, Bernadete o convidou para ir à uma festa em sua casa. A
festa seria no próximo sábado e ela disse que os seus pais gostariam de
conhecê-lo, para, enfim, formalizarem o namoro. E lhe explicou que a festa seria montada
ao redor da enorme piscina da família, onde, uma grife famosa faria um
desfile de moda e utilizaria sua belíssima residência oferecida pelos seus
pais. Bernadete disse para o José Luís que o convite custava quinhentos reais,
mas como ela era filha anfitriã, tinha dois convites disponíveis. José Luís
concordou em ir. Ele já havia passado por essa tribulação de conhecer a família
da namorada e sabia que seria uma ocasião bastante formal, mas como se tratava
de uma festa beneficente, com desfile de moda, não ia precisar vestir roupa
social. José Luís usaria a sua camisa branca batida, calça preta e a sua
gravatinha borboleta, também preta. José Luís achou legal a menina tê-lo
convidado para a festa e até pensou que talvez tivesse a oportunidade de pular
algumas das etapas chatas desses encontros com famílias, como por exemplo, ver
álbuns de fotografias antigas, falar dos seus pais, do seu trabalho, como foi
criado, sua religião, profissão e etc... José Luís só não podia imaginar que
teria uma enorme pedreira a sua frente
Dia da festa
Era um coquetel, seguido de
almoço. José Luís, ao celular, deixou bem claro para a sua namorada ruiva que
havia aceitado o convite apenas para conhecer a sua família e, ao chegar no
local da festa, havia uma superlotação. Havia tanta gente naquele local e para
piorar, todos os garçons estavam vestidos exatamente como ele. José Luís apresentou
o convite e precisava ir ao banheiro e foi só ele sair do banheiro, já haviam
vários pedidos para ele trazer da cozinha e do bar. Ele serviu água para todas
as senhoras da sua direita, antes mesmo de passar pelas mesas dos ombrelones.
Em uma das mesas, havia uma senhora estranha e colocou em suas mãos uma garrafa
de água. Era uma daquelas garrafas da boca larga e estava escrito no rótulo:
Água de chuva. José Luís experimentou da água e podia jurar que sentiu gosto de
chuva. Ao conseguir, enfim, escapar daquelas mulheres, se dirigiu novamente ao
banheiro, e na primeira cantoneira, depois da grama, numa parte coberta por
rosas, tinha uma menina de vestido azul. José Luís a olhou e ela entregou-lhe
um mapa e disse que ele iria precisar daquele mapa para conseguir sair da
enorme residência. José Luís nem ligou, apenas guardou o mapa no bolso e subiu
num patamar elevado. Olhou toda a extensão da residência e percebeu que haviam
cachorros soltos por todos os lados extremos da residência. A menina de vestido
azul, antes de desaparecer, disse para ele não desprezar o mapa, pois
certamente precisaria dele.
José Luís constatou que todos os
convidados eram muito chatos. Tinham umas caras fechadas, como se estivessem
extremamente mal-humorados. Os mais velhos eram neurastênicos. Tinha um senhor
careca que dizia bem alto que a noite era uma criança, mas a madrugada era um
feto. José Luís entrou no banheiro e achou gostoso o cheiro de alfazema que
exalava das instalações, sentou na privada e desenrolou o mapa. Constatou que
se tratava da planta da enorme residência e havia nela todos os arredores do
local, inclusive do bairro Real Parque. A piscina ficava bem ao centro da
propriedade e, os cantos quatro contos poderiam ser chamados de labirinto. Todas
as mesas dos convidados ficavam realmente ao derredor da piscina. Os cachorros
ficavam ao redor de onde estavam os convidados. Eles não podiam ser vistos por
ninguém, mas estavam lá. No mapa, também havia uma cruz de malta desenhada no
canto direito. Abaixo da cruz estava escrito a seguinte frase: "Você
precisa estar aqui". José Luís ficou curioso, mas notou que para chegar ao
local indicado, precisaria passar pelos cachorros. Ao olhar de cima do muro
para eles, rosnaram assustadoramente para José Luís. Lembrou-se que morria de
medo de cachorro, pois, em sua infância havia sido atacado. E aqueles eram verdadeiramente
assustadores. Dobrou o mapa e guardou em seu bolso novamente.
De volta à festa
O rapaz desta vez serviu vinho
branco para quase todos os convidados que estavam em sua fileira. Cortou o
paillard de frango do prato de três crianças e depois serviu refrigerante para
mais quatro mulheres mal-humoradas. Pegou do chão alguns guardanapos que haviam
escorregados do colo de outros cinco convidados. Eles nem perceberam que os
guardanapos haviam escorregados de seus colos, mas também nem lhe agradeceram
pela gentileza. Soou como se ele não estivesse fazendo nada mais do que a sua
obrigação. José Luís odeia gente antipática e aqueles convidados estavam
batendo todos os recordes de antipatia, mas José Luís não retribuiu com a mesma
antipatia, não, apenas sorria e pedia licença. Quando estava quase conseguindo
se sentar, sentiu uma mão tocando em seu ombro. Era uma senhora com uniforme de
cozinheira, pedindo-lhe educadamente que a acompanhasse à cozinha. José Luís
respirou bem profundamente para dizer a ela que ele não era garçom, mas declinou,
e soltando o ar dos pulmões lentamente, a seguiu em silêncio. Pensou que talvez
aquela senhora pudesse levá-lo até a Bernadete, pois não a havia visto em parte
alguma daquele enorme local.
A cozinha ficava do lado oposto
ao banheiro e bem distante das mesas dos convidados. A senhora vestida de
cozinheira se apresentou a José Luís. Era a senhora Maggie e, sem dizer mais
nenhuma palavra, entregou-lhe uma bandeja com caviar e torradas. Apenas disse
que ele tinha de passar aos convidados. José Luís pegou a bandeja e começou a
passear pelo salão, buscando por Bernadete no meio dos convidados, mas ninguém
se servia da sua bandeja. Mas, após cinco minutos, um senhor, finalmente, pegou
uma torrada da bandeja e a estendeu para o rapaz passar o caviar na sua torrada.
José Luís olhou para o lado e viu que o outro garçom passando caviar na torrada
do outro convidado utilizando uma espátula. Entendeu a demonstração. José Luís
voltou rapidamente à cozinha e apanhou uma espátula na gaveta e voltou correndo
para terminar o serviço daquele senhor, que impacientemente ainda o aguardava
para lhe fazer um comentário:
- Você deve ser novo por aqui,
não é mesmo? Vou reclamar de você na cozinha! Após isso, o jovem José Luís entrou
no meio da multidão e trabalhou à exaustão. Dezenas de convidados se
aproximaram dele para pegar uma torrada da bandeja. O jovem pegou uma prática
tão grande que só ia passando o caviar nas torradas. E, após servir várias
bandejadas, ele já nem se lembrava mais que estava ali apenas como convidado.
Veio a festa para conhecer a família de Bernadete e já nem sabia mais aonde
estava a sua namorada.
Nessas voltas que dava da cozinha,
para dar uma espiada no local, José Luís subiu por outro lado e teve acesso a
uma cerca, começou a escalá-la, mas não conseguiu completar, porque era muito
alta. Achou até que não iria conseguir descer. Olhou para baixo e era uma
altura consideravelmente longe do chão. Pensou em gritar por socorro, mas não
teve coragem. Um dos convidados viu o seu desespero e sorriu para ele. José
Luís tentou se justificar dizendo que estava fora de forma e que talvez
precisasse que alguém chamasse os bombeiros, mas, em seguida, conseguiu firmar
o pé no chão e deu a volta com a pena na cerca e subiu por outra balaústra cheia
de espinhos. Precisou dar um grande salto para voltar à escada que dava acesso
às mesas dos ombrelones.
Todos estavam ali há horas e nada
do evento ter fim. José Luís estava realmente exausto e resolveu sentar-se um
pouco. Logo apareceu a senhora com outra bandeja de caviar com torradas para
ele servir. Ele disse que não ia servir mais caviar. A senhora fez uma cara
horrível para ele e perguntou por que ele não ia servir. José Luís disse que
não ia mais servir, pois os convidados já estavam enjoados de tanto caviar com
torradas e já tinha voltado com a bandeja repleta várias vezes. A senhora foi
lá dentro e lhe trouxe uma bandeja de damasco com cream-cheese e disse-lhe:
- Sirva um pouco disso, agora. –
José Luís pegou a bandeja e consentiu em servir. Andou em volta da piscina
apenas uma vez e notou que a sua bandeja já estava vazia. Devolveu a bandeja na
cozinha e, sem parar, pegou outra para continuar a tarefa. Mais uma volta e a
sua bandeja estava vazia novamente. Os convidados agora estavam com sede,
deduziu a senhora e propôs-lhe agora uma bandeja com refrigerantes e água. José
Luiz conferiu a bandeja e haviam 16 copos com água, Coca-Cola, guaraná e soda.
Não deu mais de dez passos e sua bandeja ficou vazia. José Luís retornou à
cozinha e apanhou outra bandeja de refrigerante, depois outra, e outra... até
que cansou o braço. A senhora sugeriu que ele mudasse de braço e fosse
revezando para diminuir o cansaço. Depois pediu para ele avisar os convidados
que o jantar ia ser servido, em quinze minutos, no salão principal. O jovem
pegou um sino e o sacudiu por três vezes. Todos olharam para ele. Com uma voz
eloquente ele informou a todos para que se dirigissem ao salão principal, pois
o almoço seria servido em quinze minutos...
- Preciso sair dessa festa! José
Luís só pensava nisso. Tinha o mapa. Pensou naquela menina lhe dizendo que ele
precisava estar
José Luís trabalhou muito tempo
em restaurantes. Tinha um cozinheiro/chapeiro revoltado da vida e se o cliente
devolvia algum prato para passar mais, antes de ir para a grelha, por Deus do
céu, ele passava o bife na piroca. O nome dele era Mesqueté. Cearense
sanguinolento. Uma vez ele contou uma história. Primeiro ele fez uma pergunta:
- Alguém já comeu pão de frios?
Ninguém respondia para ver se ele mudava o assunto. Mesqueté nem se importava e
continuava a contar:
- O pão de frios foi criado por
acidente: Um padeiro comeu uma grande porção de presunto e mortadela e enquanto
estava amassando a massa do pão, passou mal e "descomeu" em cima da
massa. Para não jogar toda aquela grande quantidade de massa fora, continuou o
processo e assou os pães, depois os enviou para serem vendidos no balcão. No
dia seguinte, tinha uma fila enorme encomendando pães de frios. E ria achando
muita graça daquilo, enquanto todos quase vomitavam de desgosto. E Mesqueté
prosseguia:
- Tinha um garçom no restaurante
que mijava na sopa. As vezes os clientes diziam que a sopa estava salgadinha.
Era o tempero especial do garçom. Essa fazia gente morria de rir.
Eu nunca fiz maldade com cliente.
Só uma vez, eu estava ruim da barriga e fui servir um prato e, sem querer,
soltei um daqueles "ninjas". Precisei sair de cena. De longe eu ouvi
vários clientes reclamando do cheiro do gás paralisante. Era hilário trabalhar
em restaurantes.
Mesqueté dizia que tinha uma
pastelaria na sua cidade que vendia um pastel de frango famoso. Uma vez, a
proprietária, uma chinesa, foi gravada capturando pombos no telhado do prédio.
Ele disse que o vídeo estava no YouTube. Denunciaram a chinesa e hoje, lá no
local da pastelaria é agora uma padaria. Os chineses são os piores, dizia
Mesqueté...
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