sexta-feira, 28 de novembro de 2014

SOBRE SANTOS E VELAS

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Sobre santos e velas...



Eram 07h00 da manhã, e Samuel, o jovem evangélico, acordou a pouco. Na noite anterior ele havia recebido uma ligação da empresa de limpeza em que trabalha, solicitando os seus serviços para esta manhã. Seria numa residência lá no Real Parque, Zona Sul da capital paulista.

– "Eis-me aqui!" - Foi a sua resposta à prestadora de serviços terceirizados. Não podia faltar em hipótese alguma. Era funcionário novo e ficar sem trabalho justamente agora que se aproximava o final do ano não lhe seria nada útil. Após conferir se o seu bilhete único estava carregado, atravessou a cidade de São Paulo inteira, rumo ao Real Parque. 

Após duas longas horas na condução, pois morava na Zona Leste, se apresentou à uma estância maravilhosa, na parte mais nobre do Real Parque, na Zona Sul. Quem o recebeu, no portão chique da residência, foi a senhora Lavínia, proprietária da mansão. E ainda estavam ao portão e ela já foi lhe entregando o planejamento das suas tarefas e o que deveria ser limpo até o final do dia. Samuel assentiu tranquilamente, pois era um profissional de qualidade. 

Havia começado a trabalhar às 09h30 e, como o seu expediente se encerraria às 18h00, nem quis almoçar, pois havia entrado em "consagração". Há muitos anos que Samuel, sempre aos domingos, se consagra ao Senhor, isto é, ele não come absolutamente nada o dia inteiro, e entregaria o jejum no altar da igreja onde ele congrega.

Samuel estava com o seu serviço bem adiantado até que, às 15h00, foi interrompido pela voz macia da senhora Lavínia lhe chamando ao patamar abaixo do andar de onde ele fazia a faxina:

– "Oi, fofo! Você poderia me ajudar a pegar umas coisas do armário da sala de visitas e colocá-las no mezanino?" – Indagou a senhora Lavínia. Ela aprendeu a dar ordens sempre em forma de pergunta. (Esses programas vespertinos ensinam muita coisa para as madames, mas a senhora Lavínia, com certeza, havia aprendido essa técnica através da geração de burguesa a qual pertencia). Samuel não era lá, assim, um rapaz muito forte, ainda por cima estava se sentindo fraco devido ao jejum da consagração que fazia sempre aos domingos, mas, como pertencia ao "clube dos fofos”, sucumbiu imediatamente ao pedido da senhora. 

Era, realmente, uma grande mansão, decorada por vários quadros de luxo, bustos e estátuas antigas de santos católicos. Samuel, particularmente, não gosta desse tipo de decoração, pois, leu na Bíblia, que o Senhor não se agrada das imagens de escultura, mas, enfim, estava ali apenas para realizar o seu trabalho e sabia o quanto era difícil tirar o pó dessas estátuas. A senhora Lavínia mostrou-lhe uma enorme cristaleira na sala. Era uma pomposa peça adquirida em antiquário por preço irrevelável:

– "Deve ser caro esse móvel!" – comentou Samuel - mas não quis ficar pensando sobre a ostentação do local, não. Apenas queria executar o que lhe fora contratado e cair fora. (Desvios de funções nesse ramo de atividade é muito comum e nem sempre recompensam o funcionário com algum adicional remunerado).

Procurou agir rapidamente, pois, apesar estar com o serviço adiantado, ainda havia muitas coisas à limpar na mansão. A noite logo chegaria e Samuel queria ir à sua congregação para entregar o jejum no altar do Senhor. Ele sempre dizia para todos que o domingo é o dia do Senhor”. E acrescentou:

–  Eu vou à igreja, hoje, nem que seja me arrastando!

– "Poderia levar primeiramente esse pacote, meu jovem?" – Disse a senhora Lavínia. Samuel olhou o pacote e, de cara, constatou que era pesado. Mas, sendo ele o único homem ali presente, não ficaria bem, para ele, pedir ajuda à uma mulher, então, atracou-se violentamente ao pacote e começou a andar, como podia, de pé em pé, com a coluna encurvada. Às vezes soltava lentamente o pacote para descansar os braços e, como também lhe doíam as costas, prendia a respiração para suprimir a dor causada pelo peso excessivo. E assim foi subindo a escadaria, degrau por degrau, quase chorando de dor. E, enfim, transportou o objeto até onde a senhora Lavínia o havia indicado.

Da sala da cristaleira até o mezanino, distavam uns setenta e cinco metros, mas os dezoito degraus da escada é que lhe causaram maior esforço. Quando voltou, a senhora Lavínia já apontava-lhe o outro avantajado pacote embrulhado com uma espécie de tule e plástico bolha por baixo, e disse-lhe ela:

– “Muito cuidado com este volume. É uma estátua muito rara, feita de espuma vulcânica que, apesar de ser dura, é bastante frágil”.

Samuel respirou fundo novamente e grudou na parte inferior da estátua, suspendendo-a com muita dificuldade. Ao dar o primeiro passo, deixou ela tombar levemente, equilibrando-a em seus ombros, mas como, realmente, era muito pesada, declinou. A senhora Lavínia suspirou rudemente e lhe disse que a estátua já deveria estar posicionada no mezanino e não podia esperar o dia todo, pois os seus convidados chegariam a qualquer momento e ainda precisava adornar a estátua. Tratava-se de uma estátua de Santa Maria, a mãe de Deus, disse a senhora beata.

Samuel tentou mover a estátua novamente, mas agora não houve jeito. Notou que havia perdido completamente as suas forças. Quebrou todo o seu orgulho e decidiu pedir pela ajuda da senhora. Ela amarrou as pontas da saia e arregaçou os punhos da sua blusa de linho. Os dois atracaram-se à estátua e, juntos, seguiram transportando-a com muita dificuldade pelo longo corredor até a escada que dá acesso ao mezanino. Samuel, que já estava sem fôlego e suava bastante, contou mesmo com a ajuda da senhora Lavínia, mas, para aliviá-la, deixou a parte mais pesada pendida para o seu próprio lado. A senhora Lavínia ia a frente, direcionando a cabeça da estátua, mas, por causa do peso excessivo, andava lentamente, pé a pé. Tirou os sapatos, pois percebeu que havia quebrado o salto quando esforçou-se para subir o primeiro degrau. Isso a deixou tão irritada com Samuel que o chamou de imprestável. Mas continuou a subir os degraus.

Após a aventura cansativa e sem fôlego na subida da escada, ainda precisavam suspender a estátua no altar que havia sido posto no canto iluminado do mezanino. Samuel contou até três, prendeu a respiração e impulsionou a estátua para cima do altar, entretanto, não suportou o peso e soltou a mão. Neste momento, a estátua começou a cair lentamente para cima da senhora Lavínia que também não suportou e soltou o seu lado para tentar escapar de ser esmagada. Antes de estabacar, a estátua tirou uma fina milimétrica da senhora Lavínia. Bateu violentamente no chão acarpetado do mezanino, partindo-se em três. Tomada de ira, a senhora Lavínia fitou Samuel e quase o espancou de tanta raiva. Aquele olhar hostil da senhora Lavínia acendeu a ira do rapaz que, como um gato, suspendeu a estátua de espuma de lava de vulcão com uma força sobrenatural. Colocou-a sobre o patamar de forma segura (nessas horas, a força estimulada pela raiva vem em dobro).

Em completo silêncio, Samuel untou as extremidades quebradas da estátua com o epóxi que havia encontrado na última gaveta da cristaleira e refez as formas da estátua com péssimo acabamento improvisado. Ao ver a estátua montada, a senhora Lavínia recobrou os seus ânimos e, rapidamente, começou a adornar a estátua. Cobriu-a com as vestes nobres adquiridas numa loja chique de Buenos Aires. Usou cola quente para dar o acabamento nas pontas e, assim, escondeu as emendas do epóxi. Após respirar aliviada, disse ao jovem evangélico:

– Talvez ninguém perceba que a estátua está avariada, não é mesmo? 

Naquele primeiro pacote que Samuel levou sozinho, haviam castiçais, cachepôs e grandes velas virgens. A senhora Lavínia desembrulhou essas peças e percebeu que não haveria mais tempo para dispô-los no local. Voltou a pedir a ajuda de Samuel, chamando-o de "fofo".

Às 18h00, começaram a chegar os convidados. Samuel reparou que ao se aproximarem do altar do mezanino, as pessoas prostravam-se aos pés da estátua. Alguns choravam, outros comentavam sobre nunca terem visto olhos tão misericordiosos como aqueles. Outros acendiam as velas dispostas nos cachepôs e nos castiçais, transformando o mezanino num ambiente sombrio, triste. Logo chegou o padre e todos os convidados puseram-se de pé, inclusive a senhora Lavínia que havia ido recebê-los no portão da estância. O padre deu inicio a uma espécie de "culto de adoração à Virgem Maria", com cânticos e rezas, num idioma estrangeiro, talvez o latim. Em determinados momentos do culto todos diziam, em coro: 

– “Salve rainha, mãe de misericórdia...”. 

Samuel observava a cena de longe, mas teve um momento em que o seu olhar cruzou com o olhar da senhora Lavínia. Ela sorriu, demonstrando que estava aliviada, pois ninguém havia percebido que a estátua estava remendada com epóxi. Samuel sorriu de volta e dispersou o seu olhar tímido. 

Já havia recebido a paga por seus serviços, mas, Samuel, resolveu ficar na estância por mais alguns minutos, pois queria ver como é que os católicos congregam. Ficou decepcionado ao ver todas aquelas pessoas se prostrando aos pés da estátua e, não conseguiu suportar vê-las fazerem súplicas, dando demonstrações de afeto à imagem e confiança à imagem. Entretanto, permaneceu em silêncio e orava bem baixinho, ali, no mezanino da mansão, e pronunciava repetidas vezes a frase:


– "Senhor, tem misericórdia!!!"


Às 18h30, o jovem saiu da estância em direção ao ponto de ônibus, pois não queria se atrasar. Precisava chegar à sua igreja e entregar o jejum, como sempre fez em dias de consagração. Ele sempre dizia que iria à igreja nem que fosse se arrastando! 

Mal desceu do ônibus e percebeu que havia algo errado com a sua barriga. Ela borbulhava feito um Sonrisal com Coca Cola. Deu alguns passos e um forte estupor começou a dar sinais iminentes do transtorno que sofreria nos passos a seguir. É nessas horas que o crente mais morno se transforma no mais fervoroso de todos os cristãos. Toda ajuda que vem do alto ou de baixo é muito bem vinda. Apertava o passo, mas já sentia que não seria possível chegar em banheiro algum. Cada passo era dado com grande esforço e responsabilidade. Chegar ao primeiro banheiro seria a sua maior conquista. Aquele estupor de diarreia roía-lhe a barriga e seguia piorando a cada segundo. Já orava em línguas sem nem querer saber se Deus o havia batizado com o Espírito Santo. Ajoelhou-se no chão quente do asfalto e determinou que não conseguia mais caminhar. O jeito, então, era arrastar-se, pois estava a poucos metros da igreja. Chegou ao altar todo cagado. Os irmãos, ali presentes, encaminharam-no ao banheiro, enquanto faziam ventinhos nos narizes e diziam:

– "Senhor, tem misericórdia!!!"


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Onofre W. Johnson
Escrito em 28/11/2014

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

"A IRA DE UM CIDADÃO"


imagem da internet

"A IRA DE UM CIDADÃO". 



Há um sentimento apertado dentro do peito de mais um cidadão brasileiro humilhado pelo sistema. Um suprimido sentimento de desvalor existencial, íntimo, caído, mais um refém sequestrado de seus direitos, mas ainda assim, um voluntário para tentar prosseguir e viver a vida amarga e quase insignificante. Ele só deixa transparecer no topo essa sensação de insignificância, o gosto choco da impotência social. Um desejo de vingança, de incentivar depredações ao patrimônio público e defender quem tem coragem de irritar-se a todo custo. 
- "Eles não têm o direito de oprimirem um cidadão, não dessa maneira! É o cidadão que lhes paga" - Desabafa o pobre cidadão. 
Para viver em sociedade, o homem precisa correr como quem corre uma maratona. Um cidadão, necessariamente, precisa da ajuda do outro para vencer. Mas para vencer esse sistema controlado pela elite, só é possível se cumprir as suas leis. Dessa vez, foi a filha do cidadão que o ajudou a respirar sobre a sua própria ira. Ela saldou a sua dívida, mas não saldou a ira do cidadão. Antes, foi mais uma dose de opressão aplicada sobre a conta de luz da família para mostrar quem é que manda nesse país. Sim, quem manda são eles, os dominadores. 
- "Eles não deveriam ter o controle das coisas do Criador, para subjugar-nos assim" – Mais outra fala angustiada do cidadão, que continua a resmungar: - "Sem energia elétrica, uma família já não pode mais viver, ou então, só há de prestar se vier a falência moral do chefe de família" - Desejou a morte!

É verdade! Eles controlam o Estado, mas também a dignidade do cidadão, sua razão de viver, pois o dinheiro? Nem sempre é possível ter dinheiro o mês inteiro. Agora, a ira? Essa sim está disponível em abundância na vida do cidadão, pois só o cidadão tem obrigações a cumprir sem poder transgredir nunca! E já não pode ver a sua família nas trevas, tendo que acender velas, tomar banho gelado. Seus filhos, parentes e vizinhos crucificariam o cidadão, pai de família que certamente viveria um "dia de cão" se não religasse a luz. Essa é a sua gestão familiar e precisa cumprir calado até a morte, como uma ovelha, rumo ao matadouro. Agora ele entende a melodia silenciosa de Jesus Cristo, carregando, "quase em vão", sua cruz pesada, rumo ao Calvário. 

Quando vir passar um homem irado pela rua, tente entendê-lo antes de julgá-lo. Agora você conhece um pedaço da história de um cidadão e está tudo tão transparente: É que, por muitas dessas intolerâncias de cima para baixo, forma-se uma ferida crescida no coração do cidadão e depois ainda ferem por cima de novo, e de novo, até nunca mais cicatrizar. Nem assim o cidadão poderá desistir, só indignar-se. O sistema sempre vence!
Não transgrida nunca! Pague suas taxas, pague ao “flanelinha” e estacione o seu carro na via pública, pague a propina da autoescola e aprenda a dirigir dirigindo sozinho, pague o dízimo da igreja e trabalhe, pague tudo e não procure receber nada em troca. Não transgrida nunca! Pague o que lhe cobrarem sempre! Caso queira ter vida tranquila, cumpra todas as leis do sistema e viva intranquilo. Não queira nunca ser um transgressor. Cumpra as leis que foram feitas somente para oprimir o cidadão. Farão do cidadão o modelo para que essas leis continuem funcionando. Eles prometem proteção, mas quem vive sob proteção são eles. Desfilam-na, vez ou outra, com seus helicópteros, carros importados e blindados, jatinhos, aviões, lanchas, iates, jet-ski. Eles são a Classe Dominante!

imagem da internet

Não é de agora que a opressão está em todos os segmentos da Sociedade. Os donos do sistema têm poder para enviarem os malvados alienados para praticarem maldades ao cidadão, e, sem lhe perguntar, sem lhe dar chance de explicar. Aplicam a lei que eles inventaram justamente para subjugá-los e com apenas um alicate na mão, cortam o fio capitalista do relógio medidor e dão de ombros, como se tivessem cumprido o seus deveres de cidadãos. Não há pensamento neles, não há patriotismo neles, nem solidariedade ao homem de bem. Cumprem o dever criado para eles cumprirem e saem tranquilos, sem perceberem que fizeram mais uma sujeira à serviço da classe dominante. Logo, logo, a carne vai descongelar no congelador escuro, o leite vai azedar, os ovos, o feijão e o arroz cozidos vão estragar, o remédio vai vencer, não haverá televisão ligada na sala, nem o computador será ligado, as velas serão acesas, e o sangue do cidadão vai ferver, e a ira vai aumentar, mas, ninguém está nem aí para o cidadão.
Eles querem enfraquecer a família até ter a chance de poder subjugá-la e taxá-la até o limite da sua honra. Contudo, mesmo bombardeada, mesmo sendo enviada para a bastilha inexpugnável da humilhação, ela continua unida e tenta impedir que o sistema dominante triunfe. Empresta-lhe o dinheiro para o pagamento da taxa e consolida a inútil ira do cidadão, adiando-a para o próximo mês. - "Poderia ter sido bem pior se o motivo pela falta de pagamento da taxa fosse por desemprego" - Comenta a esposa do cidadão. Mas, não o foi dessa vez!
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Onofre W. Johnson
Escrito em 24/11/2014

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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

"CUIDADO DINOSSAURO"

Cuidado dinossauro

MUITA ATENÇÃO:
Às placas de sinalização, aos avisos de cuidado, às recomendações bíblicas para seguir o caminho da integridade e santidade.

As orientações sobre família, trabalho e relacionamentos na Palavra de Deus são espírito e vida.(João 6:63)


Quando Ele diz: "Vinde a mim e achareis descanso para vossas almas". Esse aviso não é vosso inimigo. Ele sinaliza o caminho para que haja proteção para a sua vida.

E, mesmo que a vida dure cem anos, é breve se comparada com a eternidade que o aguarda. A escolhas que você faz aqui, de estar ou não com Jesus refletirá na eternidade, onde você estará ou não com Ele.

Pense nisso...

Tiago 4:14 – “Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece”.
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O.W.Johnson
24/11/2014

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sábado, 15 de novembro de 2014

"IGREJA QUADRANGULAR: 91 ANOS NO MUNDO, 63 ANOS DE BRASIL"



          "O SOL NÃO SE PORÁ SOBRE A BANDEIRA QUADRANGULAR"

(AIMEE SEMPLE MCPHERSON)


Aimee Semple McPherson - Fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular

          Aimee Semple McPherson  nasceu em 9 de outubro de 1890 numa pequena fazenda próxima a Ingersoll, em Ontário, Canadá, filha única de James e Minnie Kennedy e faleceu em 27 de setembro de 1944, um dia após fazer sua última pregação na mesma cidade de Oakland, onde recebeu a visão do "Evangelho Quadrangular".



2º casamento de Aimee Semple McPherson
          Aimee Kennedy tornou-se a Sra. Semple ao casar-se com Robert Semple no dia 22 de agosto de 1908. Ambos iniciaram o ministério conjunto de evangelização. Algum tempo depois, foram direcionados como missionários para a China e  lá foram acometidos de malária, a qual acarretou a morte de Robert Semple. Aimee decidiu voltar aos Estados Unidos, levando consigo sua filhinha recém nascida, Roberta, voltaram para a América após sua recuperação. A solidão dos anos que se seguiram e o desejo de que sua filha tivesse um lar levou-a a casar-se novamente, Desta vez, seu esposo chamava-se Harold Stewart McPherson, com quem teve outro filho, Rolf Kennedy McPherson. Depois de certo tempo de casamento, McPherson decidiu-se pelo mundo de negócios e abandonou a sua esposa.
          Entre 1918 e 1923, Aimee realizou inúmeras campanhas na América e em outras partes do mundo. Ela atravessou os Estados Unidos oito vezes, realizando essas campanhas evangelísticas nos maiores auditórios do país. O resultado dessas campanhas foi o de milhares de almas ganhas para Jesus, acompanhado de inúmeros milagres e derramamento do Espírito Santo. Em uma das campanhas na cidade de Oakland, Califórnia, ela recebeu a revelação da "mensagem quadrangular" ao pregar sobre a visão de Ezequiel (Ez 1:1-28). Essa mensagem mostra as quatro fases do ministério de Jesus através do simbolismo do ser de quatro rostos vistos pelo profeta, os quais são: rosto de homem, de leão, de boi e de águia. A tenda estava superlotada na ocasião e, na plataforma encontravam-se pastores de várias denominações evangélicas. O tema abordado foi "A visão de Ezequiel e enquanto pregava, Aimee vislumbrou o que ela chamou de "radiante visão celestial". Sua alma e seu coração vibraram com o que Deus estava fazendo naquele lugar de adoração. Segundo suas palavras:

Aimee Semple McPherson

          "Nas nuvens do céu - que se enrolavam e desenrolavam em flamejante glória - Ezequiel contemplava o Ser, cuja glória nenhum mortal pode descrever. Enquanto olhava para aquela revelação maravilhosa do Onipotente, percebeu quatro rostos comparados, por nós, às quatro fases do evangelho de Jesus Cristo". [...] " A tenda inteira foi envolvida, estremecendo! Era como se cada alma entrasse em harmonia com a música celestial. Fiquei ali, quieta e atenta, agarrando o púlpito, tremendo de espanto e alegria; depois, exclamei: 'Olhem, olhem, é o
E V A N G E L H O  Q U A D R A N G U L A R!'"

          Naquele momento, 1º de janeiro de 1923, nascia a Igreja do Evangelho Quadrangular, a qual se estabeleceria anos depois na cidade de Los Angeles, onde foi construída a sede internacional, o Templo Ângelus.
          Mesmo fazendo tudo o que fez, Aimee sempre dizia que, se fosse homem, poderia ter feito ainda mais pela causa de Cristo. Ela o amava com todas as suas forças de seu coração. Prova disso é que, mesmo com a saúde já debilitada, Aimee fez seu último sermão no auditório de Oakland, cidade na qual havia recebido a mensagem quadrangular 22 anos antes. Isso aconteceu no dia 26 de setembro de 1944. E no dia 27 de setembro, no dia seguinte, seu filho Rolf a encontrou morta em sua cama. Ali terminou seu ministério. Um ministério que até hoje, serve como exemplo e inspiração a todos que abraçaram, como ela, a causa de Cristo, que é "Pregar o evangelho a toda criatura" (Marcos 16:15). A Igreja do Evangelho Quadrangular baseia-se na Bíblia Sagrada a partir dessa mensagem reveladora de Aimee Semple McPherson na campanha de Oakland, Califórnia, sobre a visão de Ezequiel. Mesmo depois da morte da evangelista, a obra nos Estados Unidos permaneceu em franco desenvolvimento. Atualmente, há a presença da Igreja em 148 nações ao redor do mundo. Após a morte de Aimee, seu filho Rolf Kennedy McPherson assumiu a presidência da "Internacional Church of the Foursquare Gospel" ("Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular"), tendo como sucessores: Rev. John R. Holland, Rev. Harold Helms, Rev. Paul Risser e Rev. Jack Hayford - o qual assumiu em 2004 e permanece até hoje.

            A Bíblia e a palavra Quadrangular:

"Quadrangular" ou "quadrado" são associadas a elementos que representam a "aproximação, a aceitação e a adoração do Deus Todo-Poderoso por parte do homem pecador! Além disso, ela é pronunciada pela própria voz de Jeová!" (Dr. Raymond L. Cox). Isto torna o termo de suma importância, mesmo aparecendo somente dez vezes nas Escrituras. Nas três primeiras ocasiões em que a palavra quadrado (Quadrangular) é citada no livro de Êxodo, ela, como disse Cox, é pronunciada pelo próprio Deus.
"Farás também o altar de madeira de acácia; cinco côvados será o comprimento, e cinco côvados a largura, será quadrado o altar, e três côvados a sua altura". (Êxodo 27:1)

          Depois mais nove vezes, nos livros de: Êxodo 28:16; Êxodo 30:1-2; Êxodo 38:1; Êxodo 28.1; Êxodo 37:25; 1 Reis 7:31; Ezequiel 40:47; Ezequiel 48:20 e por último, no livro de Apocalipse 21:16, onde o apóstolo João fala da Nova Jerusalém:

Cidade Quadrangular

"E a cidade estava situada em quadrado; e o seu comprimento era tanto como a sua largura. E mediu a cidade com a cana até doze mil estádios; e o seu comprimento, largura e altura eram iguais".
(Apocalipse 21:16)
             "E em cada uma das dez referências bíblicas contendo a palavra quadrado, este termo é aplicado a elementos que representam a redenção do homem pela adoração a Deus e a aceitação da parte dele" (Cox). A cidade, nossa nova e magnífica cidade será Quadrangular! E a mensagem quadrangular é e sempre será perfeita em sua essência, pois ela está presente em toda extensão das Sagradas Escrituras. No passado, como no futuro, esse glorioso evangelho permanecerá no coração de Deus por meio da fé no Senhor Jesus.
     

IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR NO BRASIL:

          A Igreja do Evangelho Quadrangular foi fundada na cidade de São João da Boa Vista, estado de São Paulo, em 15 de novembro de 1951, pelo missionário integrante da Foursquare Gospel Church, Harold Edwin Williams, natural de Los Angeles, EUA, o qual teve o auxílio do peruano Jesus Hermírio Vasquez Ramos.


IEQ - São João da Boa Vista/SP - Fundada em 15 de novembro de 1951.


Harold Edwim Williams
O fundador da Igreja do Evangelho Quadrangular no Brasil


        Harold Edwin Williams e sua família frequentavam o Angelus Temple, onde aceitou o Senhor e foi batizado nas águas por Aimée Semple McPherson, a fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular Internacional. Neste mesmo templo, conheceu Mary Elizabeth e, em 1939, casou-se com ela.
O verdadeiro chamado de Harold para dedicar a vida em serviço do Senhor veio por meio de uma campanha voltada para jovens, na igreja de Long Beach. Naquele dia, ajoelhado ao lado do piano de cauda, ele entregou sua vida ao ministério de Jesus. Formou-se, então, no Life Bible College em 1942 e assumiu seu primeiro pastorado naquele mesmo ano, na cidade de Arkansas, igreja de Little Rock.

          O trabalho de missão no exterior veio no ano de 1945, quando Harold foi nomeado pelo gabinete de missões e enviado à Bolívia. No ano seguinte, foi, enfim, enviado ao Brasil. Chegando aqui, morou na cidade de Poços de Caldas, enquanto aprendia o idioma e ensinava inglês. Viajou para a cidade de São João da Boa Vista em 1950, quando fundou a Igreja do Evangelho Quadrangular com seu templo próprio no ano seguinte, a qual era originalmente denominada Igreja Evangélica do Brasil.
          Harold Edwin Williams nasceu no dia 27 de novembro de 1913, em Hollywood, Califórnia, EUA. Faleceu em Los Angeles, no mesmo Estado, no dia 11 de Setembro de 2002. Harold deixou a esposa, Mary Elizabeth Williams, os filhos John Robert, Paul James e Diane Elizabeth e os netos.  

Harold Edwin Williams em 1951 e com a esposa em 1999.

A consolidação e o crescimento


          De 1952 a 1954 Harold liderou, junto ao missionário Raymond Boatright, um dos maiores movimentos de avivamento que o Brasil já tinha visto, denominado "Cruzada Nacional de Evangelização", que teve início na cidade de São Paulo. Harold viera à capital paulista a convite de um pastor da Igreja Presbiteriana do Cambuci. Pouco tempo depois, implantaram uma tenda aberta de lona no mesmo bairro. A partir de então, a ideia da tenda tornou-se uma característica peculiar da IEQ no país. Então, Harold passou pelos bairros da Água Branca e Santa Cecília, sendo este último o local onde foi construído o templo em São Paulo. Ele passou, então, a viajar pelo Estado com a mesma tenda, chamada de “tenda número um”, dando ênfase à cura divina e difundindo o lema "Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e será eternamente". Enquanto isso, no salão da Santa Cecília, as senhoras da igreja começaram a aprender confeccionar tendas com a ajuda de um irmão que tinha experiência com tendas circenses. Daí por diante, as tendas compradas ou fabricadas na própria igreja saíram peregrinando por lugares como o bairro da Casa Verde, as cidades de Americana, Limeira, Vitória (ES), Curitiba (PR) e vários outros lugares. Numa onda contagiante, o movimento crescia e cada tenda dava origem a um novo núcleo que se transformava numa nova igreja.

Primeira Tenda da IEQ no bairro do Cambuci (SP, 1953)
          Na década de 60, já sob a liderança de George Russell Faulkner, estabeleceu-se a meta de levar a mensagem Quadrangular a cada capital de Estado, sendo futuramente, levada aos demais municípios. Por onde as tendas passavam, constituíam uma nova comunidade. Assim, as décadas de 70 e 80 foram marcadas pelo evangelismo dinâmico e pela construção de grandes e belos templos.


Hino da Igreja do Evangelho Quadrangular
Feito por Aimee Semple McPherson

Eia, crentes, avançai, nada de temer
Vamos firmes batalhar prontos para vencer
Vai conosco general, nosso bom JESUS
Ele nos dará vitória pela cruz!

Avante pois e sem parar, o evangelho anunciai,
O Evangelho quadrangular, de Deus o nosso eterno pai
Pois Cristo SALVA o pecador, para que seja um bom cristão
cura também a sua dor , qualquer doença ou aflição
Com Seu poder quer batizar, do céu virá pra nos levar
E com Ele nós havemos sempre de reinar

Vamos templos levantar por todo o Brasil
 A pregar sem descansar, nosso Rei gentil
Vamos missionários ser, todos, todos nós
Transmitindo com prazer de Deus a voz



          A Igreja do Evangelho Quadrangular Internacional, hoje, está presente em 148 países pelo mundo. Sua sede mundial está localizada em Los Angeles, Califórnia (EUA), mas a igreja funciona de forma autônoma em cada país. Desde 1.944 o sol brilha ininterruptamente sobre a bandeira Quadrangular, com igrejas em todos os continentes. Só no Brasil, a IEQ já conta com 7931 igrejas, com mais de 2.500.000 de membros ativos e 24 missionários enviados pela Secretaria Geral de Missões (SGM) nos seguintes países: Angola, Moçambique, Ásia Central, Ásia Oriental, Japão, Bolívia, Espanha, Norte da África, Paraguai, Uruguai e Portugal.
           Dentre as missões nacionais, vários projetos têm sido desenvolvidos pela SGM para levar o evangelho de Cristo. São eles: Projeto indígena - Kaxinawá, Base Mundial São Paulo, Projeto Lucas e Tendas Modernas.
       Essa mensagem e doutrina do Evangelho Quadrangular são um presente de Deus para nós, que pertencemos a esta denominação, e ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade devido o encargo e a herança que o Senhor nos transmitiu através de sua serva, a fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular, Missionária Aimee Semple McPherson. Que todos possamos ser fiéis à essa mensagem celestial de anunciar e ministrar a respeito da Salvação, do Batismo com o Espírito Santo, da Cura Divina e sobre a Segunda Vinda do Rei Jesus.


Com orações...
Igreja Quadrangular Jardim São Paulo - Guaianases
Pra. Cida Rodrigues dos Santos e
Pra. Priscila Rodrigues dos Santos
Escrito Por: Álvaro João dos Santos
Fonte: Departamento Histórico Quadrangular e 
Evangelho Quadrangular Teologia Confessional

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terça-feira, 4 de novembro de 2014

"A BANALIDADE DO MAL"

"Um monstro ou um homem simples"


EDUCAÇÃO MORAL: CONTRIBUIÇÕES ARENDTIANAS
“A BANALIDADE DO MAL”

 

“Eichmann (O monstro?) é encontrado quinze anos após o final da Segunda Guerra Mundial. Ele era o homem mais procurado do mundo, e após ser preso e sequestrado na Argentina, agora será julgado em Jerusalém”. Essa notícia chamou a atenção do mundo inteiro em 1960, mas principalmente da filósofa e jornalista judia Hannah Arendt, que, enviada por um importante jornal americano, foi ver de perto aquele julgamento, onde percebeu que havia muitas falhas nesta “Casa da Justiça” e algumas perguntas já começavam a pipocar em seu inconsciente: Por que não levaram o réu para ser julgado na Alemanha, que é o seu país de origem, ou então na Argentina, que era onde ele residia, ou até mesmo num tribunal internacional? Israel faria Justiça a um monstro? Se for um julgamento que todos sabem o final, então, para quê julgamento? Afinal, ele era considerado “um monstro” em Jerusalém, sem nem mesmo saberem em que grupo de criminosos ele se encaixava. Entretanto, ao buscar um homem frio, inescrupuloso, bárbaro, Hannah encontrou um homem comum. Uma pessoa que trabalhava para pagar suas contas e que no final do seu dia, voltava para casa e vivia uma vida tranquila como bom pai, bom marido, um funcionário medíocre do inescrupuloso nazismo alemão.


A obra “polêmica” de Hannah Arendt colocou às claras esses “tempos sombrios” vividos na Alemanha nazista e considerava essa “massa assassina”, como assustadoramente normal e desprovida da capacidade de pensar. E foi isso que desagradou o povo judeu, pois ela também denunciou certa falta de resistência e passividade judia e alemã diante dessa tragédia que foi o Holocausto. Ela acusou a elite judaica de ingenuidade e até mesmo de “cumplicidade” com esse terror sem precedentes e nem procedentes. Ela disse que o povo alemão foi omisso e conivente, os políticos do pós-guerra não puniram os funcionários da burocracia nazista que continuaram a trabalhar em órgãos do governo. Arendt foi mal interpretada pelo povo judaico do mundo inteiro, mas tudo ficou bem claro para nós (Grupo), que a autora não estava de acordo com as atitudes “antissemitas” daquele réu, e também nos fez reconhecer que ele não tinha muita opção. Ex: O atacante Romário, na Copa do mundo de 1994, disse que o time obedecia fielmente ao técnico Carlos Alberto Parreira, mas quando percebiam que a ordem era “burra”, não obedeciam, e ao final de cada jogo, tudo dava certo. Tanto deu certo, que até foram tetracampeões do mundo. Porém, no nazismo havia apenas duas opções: Ou Karl Adolf Eichmann obedecia ao “Terceiro Reich”, que o havia designado para o projeto a “Solução Final”, ou se colocaria na condição de “inimigo” de Estado, e isso significaria a sua própria destruição. Daí que a justificativa de Eichmann seria compreensível: “Ele só cumpria ordens”. E, nesse esquema liderado por Adolf Hitler, quem se atrevesse a desobedecer, assinava a sua própria sentença de morte, morria com um tiro na cabeça.


O filme: “A solução final”, baseado no livro “Eichmann em Jerusalém”, de Hannah Arendt foi considerado pelo nosso grupo, bastante esclarecedor, pois realmente, nos fez refletir sobre este homem que todos achavam ser um “monstro”, devido ao grau monstruoso de seus atos. Ele era o encarregado pela logística da locomoção dos judeus para os campos de concentrações, e lá, nesses campos, os judeus seriam exterminados em câmaras de gás e depois cremados em fornalhas feitas especialmente para eles. Na verdade, Eichmann cumpria a sua função e fazia tudo perfeitamente como lhe era ordenado.


Gás utilizado pelos nazistas para asfixiar a
maioria dos judeus nos campos de concentração.
Eichmann, comprovadamente, não era um doente mental, nem um alienado ideológico, muito menos um endemoniado. Se lhes atribuíssem uma dessas personalidades, então poderia ser dado como teoria explicativa para o grande mal cometido por ele. No entanto, ele agia sempre dentro da normalidade legal de seu país, e foi isso que assustou a filósofa Hannah Arendt. Eichmann não tinha o povo judeu por inocente sendo transportado para o matadouro, onde, na maioria das vezes utilizavam o gás "Zyklon B" para que fosse inalado por essa massa até a morte. Talvez, se ele recebesse uma ordem de agir conforme a sua própria vontade, os libertariam. Posteriormente seria considerado um herói nacional, se porventura vivesse num Estado justo. Mas ordens que lhe chegavam através de memorandos era para que enviasse os judeus para os campos de concentração. Então ele via nos judeus a face dos inimigos de seu país, e a ordem expressa era, “Envie-os para o extermínio”.

Essa é a tese central da autora com o conceito de “banalidade do mal”, pois o réu apresentou-se como um “homem virtuoso”, era um exemplo de pessoa bem comportada. Eichmann, segundo Arendt, “não” era um monstro. Ainda que o resultado de suas ações fosse monstruosamente macabro, ela o denominava como “uma pessoa normal” e a sua conclusão desagradou a muitos, pois esperavam que ela, sendo judia, não se comportasse dessa maneira, chamando um carrasco nazista de pessoa normal.

Segundo Arendt, Eichmann se distinguia dos demais homens comuns porque representava o maior exemplo de assassino em massa, porém, ao mesmo tempo, um perfeito homem de família. A promotoria de acusação o via como “o motor” do Holocausto, Arendt concordava com a defesa e o descrevia como um homem subalterno, transformado num funcionário desumanizado ou mera “engrenagem” ligada à solução final da questão judaica, nunca seria um motor. Ele agia sempre ancorado por leis e memorandos e, sabia que poderia ser substituído por outro funcionário, que faria a mesmíssima coisa em seu lugar, pois Eichmann estava cumprindo a sua função no Estado ditador de Adolf Hitler, portanto queria fazer o melhor por seu país. Sua função não era de responsabilidade intelectual onde pudesse tomar alguma decisão. Se não a executasse é que seria responsabilizado.

Em nossa opinião, Hannah Arendt foi muito correta em seus conceitos e em suas conclusões, ao dizer que qualquer pessoa que quiser ser fiel cumpridora de ordens, sejam essas ordens certas ou erradas, burras ou não, dentro de uma ditadura totalitarista, obrigatoriamente, terá que agir de acordo com a “banalidade do mal” que lhe for imposta.

Hannah Arendt fez um alerta sobre a possibilidade inegável de que crimes similares poderiam ser cometidos no futuro. Mas não é o castigo (punição) no homem que impedirá essa provável aparição de novos holocaustos em ditaduras totalitaristas de governos por aí a fora. Segundo Arendt, é preciso repensar a educação moral e determinar o que é que pode motivar uma pessoa comum se tornar uma aberração. Em seu livro “A vida do espírito”, ela desqualifica explicações atribuídas ao perfil de um “monstro nazista”, pois em Eichmann, não foram encontradas grandes convicções ideológicas, nem partidárias, ele não era enfermo, nem demoníaco. Eichmann não tinha tempo, nem vontade de se instruir. Jamais conheceu o programa do Partido Nacional Socialista e nunca leu Mein Kampf. Eichmann declarou várias vezes que estava com a consciência tranquila, pois cumprira o seu dever e sabia que era isso mesmo que deveria fazer. Nem mesmo homens com sólida formação moral, como o papa Pio XII, o rabino Leo Baeck e o ministro protestante Heinrich Gruber conseguiram compreender o verdadeiro significado do nazismo na Alemanha.

Eichmann, na opinião de Arendt, tinha uma ausência do pensamento com relação aos seus maus atos. Segundo ela, essa incapacidade de pensar do indivíduo oferece às lideranças totalitaristas, um ambiente privilegiado para o fracasso moral desse indivíduo que, com certeza, fará tudo o que o “seu mestre” mandar. Na concepção arendtiana, essas barbáries cometidas por Eichmann não se fundamentaram na inveja, no ódio, na cobiça e nem mesmo na falta de conhecimento (estupidez), mas sim na irreflexão. Essa é a hipótese central de Hannah Arendt que delineia uma relação entre a banalidade do mal e o vazio do pensamento, e ela disse: “Nunca um homem está mais ativo do que quando nada faz, nunca está menos só do que quando está sozinho consigo mesmo”.

A atividade de pensar significa rompimento com o mundo, sem trocar esse mesmo mundo por outro melhor. A busca de um mundo mais puro ou mais profundo, como, segundo Arendt, erroneamente indica os pregadores da tradição metafísica.

Hannah Arendt - Filósofa e jornalista
Segundo o autor deste artigo dado pelo professor, como objeto de nosso estudo – Marcel Andrade, seria preciso refletir sobre valores morais mais fundamentais como: justiça, igualdade, liberdade, solidariedade, diálogo e tolerância, ou seja, uma educação moral deve entender a banalidade do mal e enfrentar diligentemente a prática do mal, desfazer e denunciar as continuidades irrefletidas existentes entre o mundo cotidiano e o mundo dos clichês, no qual, qualquer pessoa pode assimilar com muita facilidade. Andrade revela que Arendt estava convencida de que o mal não tem raízes, nem profundidade. O mal é como um fungo, sem raiz, nem semente, mas espalha-se sobre uma superfície e do nada pode vir a ser extremo com consequências incalculáveis e desastrosas e, no caso de Eichmann, monstruosas. Daí parece claro que uma educação moral não deve se preocupar apenas com conteúdos moralizantes a serem incluídos no currículo escolar. As contribuições arendtianas na educação moral deve, sobretudo, apostar, sem garantias ou surpresas, no pensamento enquanto exercício de descontinuidade com o cotidiano e significação de um mundo onde aparecer é a condição básica para garantir a sua própria existência. Somos alguém, porque aparecemos dentro da perspectiva e sentidos dos outros. E nesse sentido, Sócrates é apresentado como o recorrente modelo de filósofo, pois soube manter-se nesse diálogo: “A possibilidade de se expor ao vento do pensamento e desarrumar nossas pequenas certezas para abrir outras possibilidades, apesar dos riscos evidentes”. Sócrates conseguiu unir o agir e o pensar, mantendo a experiência e a intimidade necessária para entender que o pensar é um distanciamento do mundo e uma reaproximação sempre renovada para entendê-lo, para que haja a possibilidade de favorecer um ambiente que desenvolva a incapacidade de fazer o mal e, assim, criar um ambiente propício para a educação moral. Educar é ressignificar o mundo em que habitamos, valorizando a atividade de pensar, privilegiando o pensamento e não apenas a fala, a leitura e o trabalho de grupo. Deve-se instigar o educando para que ele tenha o diálogo consigo mesmo, destacando uma reflexão pessoal, interna e desinteressada, mas capaz de dar significados ao mundo que habitamos.

É preciso criar um ambiente desfavorável para essa terrível “banalidade do mal”, pois, desta forma nos protegemos das intolerâncias preconceituosas e assassinas de ideologias de ditaduras totalitaristas.  Que sejamos capazes de formar mais pessoas como Sócrates do que como Eichmann e educar os nossos filhos para que absorvam muito mais os pensamentos no campo das possibilidades do que das certezas. Ideologia, se o povo pensar, acaba! Ditaduras nunca mais...


“Quando o governo é justo, o país tem segurança”. (Provérbios 29:4)
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*Trabalho de Aproveitamento das disciplinas: “ATPA e SEMINÁRIOS TEMÁTICOS” - Exigido pelo Prof.º Ms. Edson Antônio Ortiz de Camargo. Entregue pelo Grupo *Os 7 Monstrinhos.
Escrito em 01/11/2014
Texto de Álvaro João dos Santos

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