Resenha Crítica de: “Um corpo estranho na sala de aula”. Richard Miskolci
Esse
texto aborda formas para discussão entre professores e alunos, em sala de aula,
sobre sexualidade, afetividade, questões de gênero e educação que, do ponto de vista
do autor, caminham inseparáveis na escola.
Onofre W. Johnson (autor da Resenha) |
Há
bem pouco tempo atrás, a sala de aula era considerada um campo neutro na
abordagem desses assuntos citados acima. A sociedade dizia que esse tema não
poderia ser abordado na escola, por insinuar que a sexualidade só deve ocorrer
fora dos muros dos seus muros. Na verdade, o que prevalecia, era a imposição da
sexualidade tida como “correta”, pois, o que a sociedade espera é que homens se
interessem por mulheres e vice-versa, seguindo o padrão heterossexual em que os
meninos aprendem a ser masculinos e as meninas aprendem a ser femininas. E,
segundo Guacira Lopes Louro, se a pessoa ultrapassar aquilo que é culturalmente
definido como apropriado, essa pessoa é vista como transgressora,
transformando-se num “corpo estranho na sala de aula” referido como o título
pelo autor do texto. Na verdade, a sexualidade é algo impregnado nas pessoas.
Não dá para separá-la do indivíduo. Não é possível deixá-la em casa e ir para a
escola, como se fosse um casaco que o indivíduo deixa dependurado numa arara,
para que possa vesti-lo depois, quando sentir frio ou quando quiser usá-lo
depois, aleatoriamente. Guacira afirma que é preciso repensar a diversidade
sexual e afetiva dos seres humanos. O menino ou a menina que se revela
diferente é marcado (a) como alguém “estranho”, pois a maioria os classifica
dessa forma. Rejeitá-los é uma forma de violência contra o ser humano, já que,
o feminino e masculino, são padrões construídos pela sociedade. Não é
espontâneo. A escola que se faz de cega para a hostilização desses alunos (as)
não pode ser considerada neutra, pois, na verdade, a escola é coparticipante
dessa violência, pois é justamente na escola que esses padrões de
comportamento, masculino e feminino, são ditados. Os alunos hostilizados se
sentem inaceitáveis e desprezíveis. Esses alunos e professores “padronizados”,
na verdade, estão fazendo violência homofóbica com os outros alunos. A escola
deve seguir ensinando o cidadão, educando os alunos e alunas, porém, deve
respeitar as particularidades de cada indivíduo. Agindo dessa forma, a escola
contribuiria para uma sociedade mais justa. Ensinar essas pessoas a rejeitarem
a sua sexualidade, seria como dizer que suas práticas são desqualificadas e
insuportáveis, gerando com isso o preconceito. O preconceito de raça, ou seja,
o racismo é considerado, em nosso país, crime inafiançável. Em que o racismo difere da homofobia? É
visível a violência contra gays e lésbicas. As estatísticas de violência contra
eles demonstram isso.
Sociólogo Richard Miskolci
(Autor do texto "Um corpo estranho...)
|
As
práticas pedagógicas nas escolas deveriam ser provedoras da socialização do
conhecimento, portanto precisa ser democrática e nunca excludente. As pessoas
não devem ser ignoradas, muito menos desprezadas, por serem gays e lésbicas
que, neste caso, se sentirão excluídas. Ao falar mal ou ridicularizá-los, os
alunos que fazem uso dessa prática discriminatória deveria ser tratado com o
rigor que já deveria estar previsto no Regimento Escolar. O preconceito deve
ser combatido. O silêncio, por parte dos educadores, deve ser quebrado. A
escola precisa promover discussões sobre as diferentes formas de afetividade,
porém, já admitindo a adversidade sexual. Esses estudantes, gays e lésbicas,
precisam ser tratados como pessoas dignas e aceitáveis, caso contrário, a
escola estará, mais uma vez, reproduzindo a homofobia comprometendo a inclusão
educacional dos alunos (as). É preciso pensar numa escola cada vez mais
inclusiva e até mesmo trabalhar na redução das relações masculinas
preconceituosas em relação às mulheres, onde os homens são privilegiados e as
mulheres, subordinadas.
Profa. Guacira Lopes Louro |
Guacira
diz que, os sujeitos, masculinos ou femininos, podem ser o que quiserem. Eles
são instáveis. Suas identidades estão sempre em construção e por isso, podem se
transformar. O “modelo” masculino e feminino depende muito da ocultação da
sexualidade, ou seja, a mulher pode ser lésbica e continuar sendo completamente
feminina, assim acontece também com o homem. O estereótipo do homossexual/bissexual
está sendo desmistificado. No filme “Milk – A voz da igualdade”, filme que
retrata a luta de Harvey Milk, um político e ativista gay norte-americano,
mostra que os homossexuais tinham quase todos os seus direitos tolhidos,
simplesmente por serem gays. Os governos, federal, estadual e municipal,
demitiam os funcionários que se declarassem homossexuais. Não havia nenhum
político declarado homossexual eleito. Professores que se declaravam gays
precisavam deixar a profissão, pois a sociedade americana não tolerava a
homossexualidade. Eles achavam que os gays poderiam influenciar seus filhos no
caminho da imoralidade. Harvey Milk rompeu com esse tabu, que, ao recrutar o
seu “exército”, convocou os homossexuais que ainda estavam no “armário” para
que se revelassem por todo o país. Ele queria demonstrar que os gays e lésbicas
já estavam por toda parte e que todo mundo, em qualquer repartição pública ou
privada, já conhecia alguém “gay” inserido na sociedade, mesmo sem saber que o
eram. Gays não são “alienígenas”, mas, sim, pessoas de bem, como qualquer
outra. São pessoas respeitáveis, seguras de si e, inclusive, já conviviam no
meio do povo “normal” e, só não eram hostilizadas nesses ambientes, porque se
mantinham “não assumidas” (no armário). "Se
permitirmos que um, só um, ser humano seja privado de seus direitos, como seres
humanos, aí não teremos direito nenhum quando vierem tirar os nossos
direitos." (Milk)
Prof. Ms. Ailton de Souza |
"É antiga a máxima que diz que o homem e a mulher foram criados para viverem em sociedade. No entanto, ainda, não aprendemos a viver em sociedade sem nos devorarmos mutuamente. A prevaricação das Instituições de Ensino fará com que a falta de tolerância - instrumento dos perversos e ignorantes - reine livremente, fazendo com que a humanidade fique mergulhada nas trevas e no luto. A prática da intolerância enfraquece qualquer Estado Nacional, já que - sempre - está a serviço das vaidades, das ambições e das grandezas - paixões que aviltam o caráter - desnecessárias na construção do edifício social mais justo, mais igualitário, mais livre. O mais entusiasta e inflamado pelo desejo de ver consagrada a paz entre os povos se verá enfraquecido diante dos constantes atos intolerantes, ignorantes e tirânicos. São as Instituições de Ensino que darão à Sociedade Pessoas implacáveis no cumprimento de seus deveres, que aprenderam que não têm liberdade para obedecerem à indiferença, aos caprichos e à covardia - instrumentos dos ignorantes - antes, sentem-se no dever de consolidar e propagar a tolerância entre os indivíduos existentes no cosmo, por meio da derrubada de todos os preconceitos relativos às questões étnicas, culturais, religiosas, econômicas, sociais e de gênero." Ailton de Souza
Onofre W. Johnson (autor da Resenha)
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CONCLUSÃO DO AUTOR
Participei de alguns debates (em sala de aula e na rede social) referentes ao tema e percebi que as pessoas estão bem distantes de se aceitarem mutuamente, porém, aprendi bastante com “O corpo estranho...”. É preciso aproveitar esse momento e aprender a conviver com as diferenças das pessoas, inclusive no que se refere às suas sexualidades, reconhecendo os direitos que elas têm, como indivíduos, para serem o que quiserem ser. Os professores precisam divulgar essa intenção, cada vez mais desejosa, de não mais participar dessa violência silenciosa que a escola faz com os alunos homoafetivos, praticamente abrigando-os a protegerem-se como podem e não como merecem ser protegidos.
A Escola não pode incentivar que esses seres humanos fantásticos sejam tolhidos de seus direitos, antes, ela deve lutar por um mundo mais justo, sem discriminação de espécie alguma. Seremos os professores dessas pessoas que estão em construção. A Escola precisa ser inclusiva e não exclusiva como vem sendo esse modelo de escola que tem sido apresentado em nossa sociedade. Como o texto sugere, a Escola não pode mais estranhar os gays e as lésbicas, antes, ela deve reconhecê-los, proibindo a perseguição que emerge da sociedade que, sempre, construiu o "homem masculino" e a "mulher feminina". É preciso buscar informações profundas sobre essas práticas sexuais que não são novidades, pois sempre existiram em todas as sociedades. Essas pessoas não eram compreendidas, pois, erroneamente, se pensava em algum desvio moral, um pecado, muitas vezes sendo castigadas pelos pais, pela sociedade e por elas próprias, pois, rejeitavam a si mesmas e por causa disso, quantos suicídios foram registrados ao longo da história? O fato é que há pluralidade de gêneros (masculino, feminino, homossexual, bissexual e etc.) e a escola não poderá mais fazer vistas grossas para essa realidade preconceituosa.
As mulheres, também não devem ser educadas para serem subordinadas aos homens. Elas devem ser educadas para que tenham os mesmos direitos civis que já lhes são conferidos pela constituição Federal: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade...”. Discutir é enganoso. Deve-se admitir a adversidade sexual.
Não é só a Escola que comete violência contra a sexualidade das pessoas. É preciso pensar uma Igreja "menos" excludente também. É óbvio que Deus criou o homem e a mulher. Ele não poderia criar algo diferente disso. Poderia? A sexualidade foi construída pela sociedade. Masculino e feminino são características dos heterossexuais, homossexuais, bissexuais e etc. Eles não são abomináveis. Esses termos são novos, para definir o homem e a mulher sem fingir que suas sexualidades não existem. A graça revela a misericórdia de Deus. Atributos pecaminosos dos homens serão restaurados. Nasce o novo homem (Heterossexual?). Nasce o verdadeiro adorador que adora a Deus em espírito e em verdade. No céu não haverá sexualidade, isto é, o heterossexual também será curado disso lá. A homossexualidade/bissexualidade/transsexualidade, ou seja, a adversidade de gêneros não degenera a heterossexualidade de ninguém.
Somos construídos por essa sociedade que (acho) que agora está aprendendo a discutir suas diferenças. Não somos melhores do que eles. Eles são gente tanto quanto a gente. Não existe sub-gente ou gente de segunda categoria. Veja na História quanto tempo demorou para a sociedade admitir que os negros eram gente como ela. Hoje o que soa ridículo até pronunciar era a diferença de classes do passado. Imaginem um negro na primeira classe de um navio há alguns anos. Causava escândalo. Foi assim que as pessoas da sociedade aprendeu no passado e ainda existem pessoas que dizem que eles são inferiores e cometem "racismo" em pleno Século XXI. A verdade é que Deus só enviará almas que tiverem por pai o diabo. Os filhos de Deus irão morar com Ele. Aqueles que se achegarem a Deus de maneira nenhuma serão jogados fora.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Texto "UM CORPO ESTRANHO NA SALA DE AULA" – Richard Miskolci.
- “Milk – A voz da Igualdade”, 2008, Gus Van Sant – Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HYUOtn7vdsA – Acesso em 24 de maio de 2015.
- Art. 5º da Constituição Federal de 1988.
- Projeto Integrador - Cidadania e Responsabilidade Social, Disponível em: http://www.cbcon.com.br/uniesp/servlet/Controller?cmd=abrirambientesala&idCurso=1465&idSala=22126&idTurma=3489 - Acesso em 24 de maio de 2015.
Trabalho para aproveitamento da disciplina “GÊNERO E EDUCAÇÃO” do 4º Semestre de Pedagogia - Exigido pelo Professor Ms. Edson Antônio Ortiz de Camargo da Faculdade Uniesp/Guaianás.
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Texto de *Onofre W. Johnson
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