terça-feira, 21 de junho de 2016

ARTE GRAMÁTICA


Arte Gramática

Era muito competente o professor Horácio. Dava aula de Arte e estimulava seus alunos a se apaixonarem por essa matéria, tão expressiva, tão pedagógica. Ele realmente era bom no que fazia. Em algumas ocasiões, até excedia as expectativas dos alunos. Suas aulas eram, na maioria das vezes, práticas, mas nos trabalhos manuscritos ou digitados, ele também exigia que não houvessem erros de português.

Terezinha era uma aluna do 1º semestre de Pedagogia. Seu sorriso era silencioso, porém muito cativante e encantador. De origem humilde, não conseguiu ter muitas coisas de valor além do seu apartamento na Cohab da Zona Leste da cidade. Mesmo depois de ter se casado, tudo que conseguiu conquistar, com o seu marido, tinha sido através de muito esforço e muita luta. Valoriza cada conquista com muita responsabilidade. Apesar de inteligente, Terezinha não teve lá muitas oportunidades para aprender de verdade a disciplina de português. Na escola, desde muito pequena, foi passando de ano e, quando já estava nos anos mais avançados, ainda cometia muitos erros gramaticais. Os professores lhe diziam que ela deveria ter aprendido há muito tempo e que seria tarde demais para ensinar-lhe de última hora. E, com isso, Terezinha ia passando de ano... Mas, agora, já estava na faculdade, contudo, continuava a errar na gramática e, quando tentava expressar-se nos textos exigidos pelos professores, sempre tinha problemas. Em seus resumos e resenhas, ela utilizava dos recursos de aplicativos para corrigirem seus textos, mas quando precisava elaborar os trabalhos acadêmicos em sala de aula, Terezinha não conseguia. As normas da ABNT era o motivo principal da sua loucura. Sempre contava com o apoio dos colegas mais experientes da sala.
Terezinha adora arte e sempre teve muita facilidade para fazer desenhos, pinturas. Adora construir brinquedos utilizando materiais recicláveis. Diz que é o seu maior prazer. O “problema” dela, realmente, era a língua portuguesa. 


O Grito - Munch - adaptado


Dia da Prova de Arte

Terezinha fez a prova inteira com bastante atenção e logo a entregou ao professor. Comentou com as colegas, vizinhas de carteira, que teria se sido melhor se a prova tivesse sido oral, ou prática.

Resultado da prova após uma semana... Terezinha foi uma das últimas a serem chamadas para vistar a prova. É que o professor Horácio chamava os alunos por ordem alfabética.

- Você tirou uma boa nota, Terezinha. - A aluna agradeceu, mas percebeu que na prova haviam muitos rabiscos, porém havia tirado nota 8. 


Já sentada, debruçou-se sobre a prova para ver os tais rabiscos vermelhos do professor. Ele havia feito círculos, sinais de errado e, também, muitos sinais de interrogação na prova de Terezinha. Na parte superior direita da prova, ao lado da nota 8, estava escrito a seguinte frase: “Você foi muito bem, mas poderia ter tirado 10, se não tivessem tantos erros gramaticais”. 

Ao ler aquelas palavras, Terezinha esperou todos saírem, pegou a prova e dirigiu-se ao professor e pedindo-lhe autorização para falar. O professor assentiu e Terezinha, com lágrimas nos olhos e com sua voz embargada, disse-lhe:

- Estou me sentido tão humilhada, professor (...). O senhor apontou todos os erros de português da minha prova. Veja, ela está toda rabiscada de vermelho! - E chorou, silenciosamente, enquanto o professor recolhia a prova da sua mão. Terezinha saiu da sala arrasada. 

Minutos depois a aluna foi alcançada, pelo professor. Ela havia sentado na parte já escura da cantina, pois aquelas horas já haviam fechado. Sozinha e com os livros no colo, Terezinha mexia no celular, mas estava sem conexão com a Internet. O professor Horácio se aproximou e lhe pediu autorização para sentar-se ao seu lado. Ela consentiu. O professor, humildemente, pediu-lhe desculpas. E, agora, era ele que chorava. E disse: 

- Eu já consertei a sua nota. Você tirou 10. Reconheci que a minha missão, como professor de Arte, é estimular os meus alunos a se interessar por essa disciplina, e você, Terezinha, tem fruído muito bem nas aulas práticas. Parabéns!!! - E continuou - Mas não deixe de procurar ajuda em gramática, querida. Você será uma pedagoga. Precisa aprender a escrever corretamente as palavras, ou então, me diga: como poderá alfabetizar os seus alunos?

Terezinha, naquele momento, ficou sem saber o que responder ao professor. Apenas permitiu que ele a beijasse na testa. Atualmente, graças ao conselho do professor Horácio e também aos seus esforços nas aulas particulares de gramática, Terezinha é uma ótima alfabetizadora da Rede de ensino municipal. 
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Texto de Álvaro Pensativo

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