Prof. Dr. Mario Sergio Cortella |
"Somos
incompletos".
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Escrito
por Onofre W. Johnson
“OS ALUNOS DE HOJE NÃO SÃO MAIS OS MESMOS”.
Dizer que os alunos de hoje não são mais os
mesmos não faz o menor sentido. É evidente que não. Alguém que diz isso
demonstra um pouco de insanidade mental. É claro que os alunos não são mais os
mesmos. Até aí é uma constatação. Doença é saber que eles não são os mesmos e
continuar a dar aula do mesmo jeito que dava há vinte anos. Porque, se eles não
são os mesmos, como continuar fazendo as coisas do mesmo jeito? Você tinha
vinte anos, eles cinco. Você fez trinta anos, eles cinco. Você fez quarenta,
cinquenta anos e eles continuam com cinco anos. Como disse Einstein: “Tolice é
fazer as coisas sempre do mesmo jeito e esperar resultados diferentes”. Não
queremos ser tolos, mas podemos sê-los, e seremos se esquecermos de colocar-nos
em prontidão para aprender de forma contínua. Pois, já dizia Paulo Freire: “Só
é um bom ensinante quem for também um bom aprendente.”
UMA AULA MODERNA
Não podemos confundir antigo, com velho. Exemplo: Uma aula expositiva é
antiga, mas não é velha. Velha é uma atividade que não atinge o objetivo. Velho
é o procedimento que não cumpre a sua tarefa. Muita gente supõe que, para dar
uma aula moderna, será preciso eletrifica-la. Não necessariamente. Não é a
tecnologia que moderniza uma mente pedagógica. É que uma mente pedagógica
moderna não dispensa a tecnologia, quando ela for necessária. Power Point, Data
show, nem sempre será necessário utilizar essas coisas. É preciso saber quem é
o sujeito ao qual será dada essa aula moderna. Como poderei saber o que sabe
aquele aluno que está na minha frente? Exemplo: Um aluno que entrou esse ano na
Universidade nasceu em 1997. Isto é, ele não conheceu Ayrton Senna. Senna
morreu três anos antes d’ele nascer. Esse aluno não assistiu a um filme, muito
antigo, de 1997, chamado “Titanic”. Aliás, esse aluno não conheceu “Mamonas
Assassinas”. Aquele grupo musical que tanto encantou aos nossos domingos, com
suas músicas “intelectuais e espirituais”. (risos) No dia 2 de maio, deste ano
de 2015, fez dezenove anos da morte deles. Eles morreram em 1996. Isso
significa que os alunos de dezoito anos, que nasceram em 1997 não os
conheceram. Os alunos do Ensino Fundamental I e II são ainda mais jovens.
Inclusive eles não sabem o que é Mamona, Quanto mais, Assassinas. Eles podem
supor que seja o nome de algum vírus e vão perguntar: - Mamonas, o quê,
professor? - Assassinas. - O que é isso, professor? - É não. Era um grupo de
Rock dos anos 90, mas morreram. - Morreram de que, professor? - Desastre de
avião, morreram todos. Eles cantavam “Brasília Amarela”. - O que é Brasília,
professor? - Vocês nunca viram uma Brasília? Aquele carro com dois
carburadores? - O que são Carburadores, professor? Os carros deles têm injeção
eletrônica. (risos)
GERAÇÃO X e Z
Tudo mudou e você quer que seja tudo igual? A
tecnologia veio para ajudar-nos. Ao invés de você sentar, acomodar-se e chorar,
aprenda-a. Ao invés de amaldiçoar a escuridão, acenda velas. Somos alunos a
vida inteira, ou seja, estamos sempre em estado de nutrição. A pior coisa é quando o professor perde a
humildade pedagógica e acha que já sabe tudo e, portanto, não precisa mais
aprender. Gente grande de verdade sabe que é pequeno e por isso cresce. Gente
muito pequena acha que já é grande e o único modo dela crescer é se ela
diminuir a outra pessoa. Se quisermos crescer, temos que nos saber pequenos.
Quem achar que já é grande o suficiente, pequeno continuará. Pequenos não são
inferiores, são apenas humildes. As pessoas humildes sabem enfrentar as agonias
da vida, mas ensinam e aprendem continuamente. Um professor não pode ensinar se
não souber. Ele vai estimular os alunos a aprenderem, se ele não souber, haverá
uma incoerência. Tem colega que confunde dificuldade de aprendizagem com
dificuldade de audição. Exemplo: Um professor de Física começa a ensinar Issac
Newton e diz: Atenção Classe! Disse Newton: “Os corpos se atraem na razão
direta das suas massas e na razão inversa do quadrado da distância entre eles”.
Alguma dúvida? A classe recua, imediatamente, porque ter dúvida é feio e fica
todo mundo quietinho. De repente um aluno diz que não entendeu. E o professor
pergunta: Qual parte, você não entendeu? Tudo, responde o aluno. Então vou
explicar de novo. Menino, preste atenção! E, com a voz mais elevada, ele diz:
“Os corpos se atraem na razão direta das suas massas e na razão inversa do
quadrado da distância entre eles”, entendeu? Não, professor! De novo, mas com o
tom da voz mais ainda elevada, ele diz: Menino: “Os corpos se atraem na razão
direta das suas massas e na razão inversa do quadrado da distância entre eles”.
Aquele aluno não está com problema de audição, percebe? Mas, por que aquele
professor não explica de outra forma? Porque, talvez não o saiba. Então ele
acha melhor que ninguém tenha dúvidas. É melhor que ninguém levante hipóteses,
porque ele não saberá explicar.
Nesse mundo de alta velocidade tecnológica,
você e eu, temos uma deficiência muito grande. Exemplo: Falar de Ayrton Senna
para o menino que entrou este ano na Universidade precisa ser dito de forma
diferente para ele, pois o aluno não conheceu o piloto de Fórmula I. Ele nasceu
em 1997 e o Senna morreu em 1994. Para nós, Senna é alguém de agora. Mas,
Ayrton Senna do Brasil não conheceu cerca de 80% das coisas que utilizamos
hoje. Exemplo: Ninguém no Brasil, com menos de trinta anos de idade, tem
vínculo com Formula I. Temos dois tricampeões do mundo e um bicampeão nessa
categoria de esporte, mas a última vez que o Brasil ganhou um campeonato foi em
1991, com Ayrton Senna, ou seja, há 24 anos não vemos nenhum brasileiro vencer
na Fórmula I. E quando vencemos pela última vez, o presidente era Fernando
Collor, que agora é da Comissão de Ética no Senado. (risos) A União Soviética
ainda existia. Quem se lembra do Gorbachev, que parecia que tinha um pequeno
mapa na sua calvície? A inflação no Brasil era de 3.000% ao ano. Quem ia ao
supermercado tinha que correr na frente do funcionário que marcava o preço. Se
você tivesse pouca velocidade, pagaria mais caro no produto que ele estava
remarcando. A inflação era cotidiana. Hoje, a hipótese é de 8% de inflação ao
ano. Essa informação já nos arrepia. Ayrton Senna para a maioria dos nossos
alunos é História, para nós é Memória.
MEMÓRIA E HISTÓRIA
Setembro de 2001 para os nossos alunos não
significa, absolutamente, nada. Em 2001 eles tinham quatro anos de idade. Para
todo mundo o atentado de 2001 é Memória, Para ele é História. Cada pessoa, no
dia do atentado das Torres Gêmeas, talvez até se lembre do que estava fazendo
naquela terça-feira, 11 de setembro de 2001, às 08h15min da manhã. Chamaram
você para mostrar-lhe na TV que estavam atacando os Estados Unidos. Você
assistiu, ao vivo, o segundo avião se chocando no prédio. Pensou até que fosse
reprise do primeiro, mas percebeu que já era um segundo avião batendo nas
torres. O nosso aluno não sabe de nada disso.
Em março do ano passado (2014) desapareceu um
avião da Malaysia Airlines, até hoje não foi encontrado. Todos ficaram preocupados,
achando que ia ser usado em mais um atentado. Os alunos nem ligaram os fatos.
Não está na memória deles.
Como é que eu dou aula para ele? Digo para o
aluno que um dia ele saberá? Ou faço uma ponte do seu conhecimento prévio ao
meu conhecimento teórico, para, assim, juntos, chegarmos naquilo que é
necessário, ou seja, o aprendizado? No ano passado, durante a Copa do Mundo
2014, foi usada uma propaganda só com a voz de Ayrton Senna para nos estimular
a torcer pela nossa Seleção. Você viu que funcionou? (risos) A sua voz está em
nossa Memória, mas, 1/3 da população não tinha a mínima ideia de quem era
aquela voz. Porque para os nossos alunos Ayrton Senna do Brasil é História. Os
seus ídolos são outros. São os lutadores de MMA, jogadores de futebol e o surfista
Medina, que apareceu agora. A Formula I, a música da vitória (tan tan tan, tan
tan tan ), a bandeira quadriculada, para eles não faz o menor sentido.
Ayrton Senna morreu em 1994 e não conheceu a
Internet que só apareceu em 1995. Ela fará vinte anos de Brasil. A Internet
mudou o jeito de como o brasileiro faz compras, mudou o jeito de fazer
pesquisas, mudou a comunicação no planeta Terra. Enquanto você está aí, lendo
este Blog, a sua caixa postal está lotando de mensagens, mas, daqui a pouco
você vai lá e atualiza tudo. É o mundo rápido. Ayrton Senna não conheceu o
celular em alta escala. Há vinte anos, ou seja, em 1995, quase ninguém tinha
celular. Era muito caro e parecia uma arma de defesa pessoal. Dava para calçar
o pneu do carro com a bateria do celular. (risos) Era tão raro que, quem tinha
celular, deixava tocar em público, porque era sinal de Status. Havia camelô em
São Paulo que vendia celular falso só para tocar. (risos) Em vinte anos o
celular fez zoom! O meu telefone celular manda e-mail, têm seis mil músicas,
tira foto, grava filmagem, grava som, tem GPS, tem cotação da Bolsa, tem
serviço de meteorologia, tem conexão com rádio, televisão e se eu precisar,
ainda faço ligação. (risos)
O seu aluno não usa o celular para falar,
usa-o para escrever. Eles reinventaram o telégrafo. (risos) Ninguém, com menos
de vinte anos de idade, põe isso no ouvido. Se você encontrar alguém na escola
com isso no ouvido, é idoso. (risos) Faça um teste. Quer falar com o seu filho
agora? Liga para ele. Ele não atende. Manda um SMS que ele responde e ainda
escreve com um único dedo. Há vinte anos, se você escrevesse com um único dedo,
mandavam você embora da empresa. Ninguém, com menos de vinte anos de idade,
colocou a mão numa máquina de escrever. Tinha que usar os dez dedos. Tinha que
ter o curso de Datilografia. Você escreveu no seu curriculum que era exímio
datilógrafo. Onde está o seu diploma, agora? O seu pai falou que se você não fizesse o curso de datilografia, você não ia ser ninguém na vida. Hoje,
competência é escrever com o dedo polegar. Boa parte dos jovens escreve com os
dois polegares. Atenção, porque isso pode mudar a nossa atividade. Está
começando a vir o reino do Polegar novamente. Durante séculos na História da
humanidade nós usávamos o indicador para fazer atividades. Hoje é o polegar.
Você compra um carro novo, ele tem funções no volante. Às vezes marcha, GPS,
espelho, farol. Você já imaginou que nós precisamos aprender tudo isso
novamente. Temos duas possibilidades: A gente senta e chora ou levanta, sacode
a poeira e dá volta por cima e vai aprender a fazer. Não pense que você está
sendo substituído. Você só precisa fazer a sua aula de outro jeito. Precisa
organizar um Blog para passar informações para os seus alunos. Ajudá-los,
enviando detalhes através de E-mail. Os alunos estão voltando a escrever. Onde
eles estão escrevendo? No Twitter, no Facebook, Whatsapp, Instagran. A geração
que nasceu nos anos 90 só usava o telefone. Dos anos 2000 para cá, usa o
telefone para escrever e, portanto, escrevem. Tanto, que aumentou a venda de
livros de papel. Eles querem livros e não livrinhos. Eles querem
"livrão": Sagas, Trilogias, Harry Potter, Livros de Vampiros, com 3,
4 volumes grandes. E muitos professores não se deram conta disso ainda,
reclamando que seus alunos não leem. As livrarias criaram espaço para jovens e
crianças para eles sentarem e ficarem lendo. A nova geração voltou a ler,
enquanto a geração antiga voltou a colorir. A prova disso é que o presente mais
vendido no dia das mães foram livros para elas colorirem. Vêm acompanhados de
caixa de lápis de cor com 36 cores. Todos nós tínhamos um sonho de consumo de
ter uma daquelas e agora estamos ganhando de presente. O menino está sentado e
lendo, enquanto o pai dele está colorindo. (risos)
O mundo muda. Como agora eles escrevem e quem
escreve precisa ler, senão escreve errado e se escrever errado na Internet, ele
"toma pau" um segundo após publicar o que escreveu. Então ele começa
a querer aprender a escrever para não ser envergonhado. Escreveu errado, serão
vinte e cinco unlikes de tiração de sarro. Então, ele fica esperto para não
pagar mico. Aí alguém poderá dizer que o jovem escreve errado, ele escreve vc
ao invés de você. Não tem problema, porque há trezentos anos o “vc” se escrevia
“vossa mercê”. Há duzentos anos virou “vosmicê”, há cem anos virou “você” e
agora vai virar “vc”. Podem incorporar à forma culta de linguagem, ou não.
Incorporaram o “você” na forma culta ao invés de “vossa mercê”, pode ser que o
nosso “você” vire “vc”, por que não?
Para fazer a Gestão do Conhecimento é preciso
ter humildade e abrir a cabeça para as coisas novas. Se Ayrton Senna não
conheceu celular em alta escala, o meu aluno da Faculdade não conhece Pen
drive. Esse dispositivo, para eles já passou. Eles armazenam os seus dados nas
nuvens. Eu pedi que eles entregassem um trabalho em pen drive, eles disseram:
Pen drive, professor? Não tem mais nem onde abrir isso. Foi aí que constatei
que era uma verdade. Os novos Tablets não têm mais entrada USB para pen drive.
E tem gente que ainda nem começou a usar pen drive e eles já saíram do
circuito. Outro dia perguntei para uma professora se ela tinha pen drive e ela
disse que tinha, mas o médico tratou e ela se livrou. (risos)
Ayrton Senna não conheceu GPS. Um aparelho
que fala com você. Ele te dá ordens: Vire à direita na próxima quadra, vire à
esquerda, siga em frente. Parece que quem está lhe dirigindo é a tua sogra. E
agora, já está vindo o carro sem motorista. Vi uma notícia que o Google está
testando o carro que circula sem motorista. É um carro todo operado por
satélite, com GPS e sinalizador de proximidade. A gente assusta e posso dizer
que foi o mesmo susto que eu levei quando cheguei a São Paulo. Em 1967/68, o
primeiro lugar que eu fui fazer compra foi no Mappin. Quem se lembra do Mappin?
(risos) Se você se lembra, deveria já estar afastada. (risos) O Mappin fechou
as portas há mais de vinte e cinco anos. E quando a gente pegava o elevador
tinha um ascensorista. Mas quando eu fui, em outra ocasião, não tinha mais o
ascensorista. Levei um susto! Não tinha ninguém dirigindo aquilo. Parecia com
algumas Secretarias que a gente fica com aquela sensação de que não fica
ninguém as dirigindo. O elevador não tem nem número para você apertar. Você diz
e ele obedece. O Metrô de São Paulo durante vinte e cinco anos manteve um
funcionário no primeiro vagão para o povo não entrar em pânico. Porque se o
povo soubesse que aquele trem não tinha ninguém dirigindo, ninguém ia andar. Os
trens são dirigidos daquele centro da Rua Vergueiro. É o computador que dirige
e deixa um funcionário ali só para dizer: Próxima estação, Vergueiro. E agora
nem isso tem. Como o povo já cansou, já dá para dizer que não tem ninguém
dirigindo, mas nunca teve ninguém dirigindo aquilo lá. (risos)
Ayrton Senna não conheceu injeção eletrônica,
não conheceu Facebook, Twitter, Google, Easy taxi, Uber. São Paulo até bem pouco
tempo era refém das Cooperativas de táxi. Tinha que pagar mil e quatrocentos
reais por mês para ter direito a um rádio táxi. Agora ele paga quatrocentos
reais e está tudo resolvido. Mas para quê pagar cooperativa se eu posso baixar o aplicativo Uber? Tudo muda! Na escola as coisas também precisam mudar. É uma
encrenca. Os alunos são do século XXI, nós somos do século XX e os métodos são
do século XIX. Você já imaginou? O aluno nasceu no século XXI, nós, os
professores, nascemos no século XX e a metodologia que a gente usa é do século
XIX. (risos) A organização disciplinar, a avaliação não está batendo e, por
isso, dá encrenca.
O Senna não conheceu uma coisa que demorou em
chegar às escolas: O DVD. Há escolas utilizando Videocassete. Boa parte de nós
não temos mais DVD em casa. Se quiser ver um filme ou vê no cabo, ou na
internet, Netflix. Airton Senna não chegou a usar, porque o aparelho de DVD apareceu
após a sua morte. Onde a gente via filme antes do aparelho de DVD? Tem gente
que comprou aparelho de videocassete no consórcio. Tinha uns que vinha do
Paraguai. Tinha uns com duas cabeças. (risos) O DVD apareceu em 2003. Mas, só
há dez anos que o povo brasileiro começou a comprar DVD. Ele custava mil e
duzentos reais. Depois baixou para seiscentos, duzentos, cem e agora você
compra uma revista e ganha um aparelho de DVD. Compra um cacho de banana ganha
outro aparelho de DVD. E hoje, se eu disser que quem ficar até o fim da minha
palestra ganhará um cupom para o sorteio de um aparelho de DVD, não fica
ninguém. Há dez anos, ficaria todo mundo. (risos) Têm dez anos que existe o DVD
e até hoje tem gente que não sabe ligar ainda. Você quer assistir um filme em
casa, chama o teu menino de dez anos e pede para ele ligar aquela porcaria. Aí
ele vai lá e arruma a imagem e, depois, judia de você, pois vai embora antes
que o filme acabe. E quando acaba o filme você pega o controle remoto e fica
olhando para ele, pensando: Será que tem que rebobinar? (risos) Lembra quando
pagava multa quando não rebobinava a fita VHS? (risos)
Quero aproveitar esse final e lembrá-lo de
algo que vai te ajudar. Os professores de antigamente nos faziam estudar muito,
isto é, decorar. Mas decorar não serviu. Para que iria servir? Serviria se
fosse nos anos 1950. Mas para os dias de hoje, com a velocidade das coisas do
jeito que estão neste mundo de mudanças, não serve mais. É preciso pensar não
só na ideia dos saberes integrado entre si, mas também integrados para o
cotidiano. E isso exige de nós a humildade. Para que tenhamos a capacidade de
saber que têm coisas que a gente não sabe para que a gente consiga, como
categoria profissional, fazer melhor tudo aquilo que a gente já faz. É preciso
humildade, alegria, sabedoria e capacidade para entender a importância que
temos e olhar para o mundo em que a gente está e achá-lo, absolutamente,
encantador, cheio de encrencas, mas nenhuma delas insuperável. É só olhar com
um pouco mais de carinha para a nossa capacidade de termos uma gestão de
conhecimento que seja de fato conhecimento e que não se limite a ser mera
informação. Ayrton Senna, Mamonas Assassinas e pessoas que estão em nossa
memória, nos emocionam. E eu preciso puxar essas coisas para lhes fazer pensar
sobre o que é que emociona os seus alunos. Assistimos os jovens ouvirem "funk" que são músicas com letras completamente nojentas. Eu adoro "funk" desde o tempo
que James Brown fazia nos Estados Unidos. Mas essas letras que eles colocaram nos "funk" são nojentas. E meninos de dez anos de idade estão ouvindo essas músicas
podres. Não é podre só porque contem palavrões, ela não é uma música erótica,
ela banaliza a relação de sexualidade, que é uma coisa tão bela na nossa
capacidade humana, a sexualidade, a eroticidade, e é tão bonito quando a gente
entende a nossa capacidade de fazer amor. É, literalmente, uma coisa belíssima.
Não é a sexualidade que a gente discute em nossas escolas. Discutimos a
violência sexual que está demais. Sexo sem consentimento é violência. O
problema não é uma menina de treze anos fazendo sexo com um menino de treze
anos, a questão mais séria é a violência dentro da escola. Não dá para
controlar tudo o que acontece numa unidade escolar, no entanto, precisamos,
pelo menos, saber o que é que eles estão ouvindo. Eu preciso aprender a ouvir o
que o meu aluno ouve. Ah, mas isso que eles ouvem não é música. Para ele é. Eu
gosto de ouvir Caetano Veloso, Chico Buarque. Isso também é música. Eu preciso
saber o que é que emociona o meu aluno para eu poder dar aula para ele. Estou
ouvindo One Direction, pois preciso entender porque as meninas da Europa estão
se mutilando só porque um dos integrantes da banda está saindo. Será que isso é
bobagem. Não, não é. Eu não preciso gostar de Lady Gaga, embora eu esteja até
gostando (risos), mas eu tenho que saber o que emociona o meu aluno. Amanhã,
ouça meia hora de sertanejo universitário. É duro ouvir isso, eu sei (risos),
mas ainda tenho uma esperança com relação ao sertanejo universitário, de que
ele se forme. (risos) Porém eu preciso ouvir para saber de onde ele tira a sua
aquela emoção.
No mundo de mudança, cuidado! Há pessoas que
dizer que faz isso há vinte anos. Cuidado! Hoje de manhã, aqui perto, num
hotel, uma mulher fez sinal para um táxi, ela entrou e sentou-se no banco de
trás e disse que queria ir para o Aeroporto de Congonhas. Quando já estavam na
Avenida 23 de Maio, ela achou que algo estranho estava acontecendo, pois os
motoristas de táxi falam tanto, em São Paulo e aquele estava tão quieto e desde
que ela entrou no táxi não disse uma palavra. Ela concluiu que talvez não tenha sido simpática com ele e resolveu falar com ele. Quando ela bateu em suas
costas, ele meteu o pé no freio, subiu em cima da calçada e começou a suar. Ela,
vendo ele pálido, resolveu pedir desculpas e disse que não teve a menor
intenção de assustá-lo. O taxista, recompondo-se lhe disse que era ele que
pedia desculpas, pois aquele era o primeiro dia que ele dirigia um táxi e ela
tinha sido a primeira passageira. Ela, então, lhe perguntou o que ele fazia
antes de ser motorista de táxi e ele respondeu que era motorista do Serviço Funerário (risos). Tome cuidado com as batidinhas nas costas. São tempos
diferentes, modos diferentes e decepções diferentes. E, repetindo Einstein:
“Tolice é fazer as coisas sempre do mesmo jeito e esperar resultados
diferentes”. Somos portadores de uma profissão que nos dá a possibilidade e a
capacidade de ficarmos alegres, humildes, fortes e capazes de construir uma
educação, uma profissão, uma atividade que nos honre, nos anime e, acima de
tudo, nos coloque numa percepção de clareza de que vivemos porque não
envelhecemos a ideia e a prática. Continuaremos a nutrir e ser nutridos no
conhecimento, nos valores e na formação e na vida.
"A grande verdade é que estamos lidando
com pessoas do século XXI, somos do século XX e a metodologia que temos para
usar é do século XIX. Aprendamos a lidar com o novo ou seremos engolidos por
eles".
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*Extraído da Palestra do Prof. Dr. Mario
Sergio Cortella, no XVIII Congresso da Aprofem do ano de 2015, em 19 de maio de
2015.
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Escrito
por Onofre W. Johnson
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