“NASCIMENTO E MORTE DO SUJEITO MODERNO” – STUART HALL
Por: Onofre W. Johnson
O objetivo do autor foi traçar os estágios do
“sujeito” na História da sociedade, centrado numa definição mais sociológica e
de como esse sujeito está sendo descentralizado, como o autor denomina, “modernidade
tardia”. Porém, nos últimos tempos, centrando-o em concepções mutantes, pois, o
sujeito em todas as épocas exercem papéis que a sociedade impõe.
Não foi fácil para o autor, mapear o sujeito
moderno, pois, precisou desconstruir ideias unificadas e muito bem definidas da
Idade Média, e hoje, o sujeito pode ser uma infinidade de coisas. Surge, então,
em algum lugar, uma nova forma do individualismo do sujeito com a sua
identidade transformada. Não são mais sujeitos submissos a tradições
pré-estabelecidas, pois, foram libertados desses conceitos fundamentalistas que
predominavam o inconsciente do indivíduo. Isso representou uma ruptura
importante com o passado.
Através da invenção do Estado laico, emergiu
uma nova concepção da consciência religiosa. O homem foi posto no centro do
Universo, causando com isso, inúmeras revoluções na área da ciência,
proporcionando ao sujeito individual, a capacidade de inquirir, investigar e decifrar
mistérios da natureza, sem a quente fogueira da destruição intelectual,
rompendo, definitivamente, com a Idade Média.
O Iluminismo revelou e estendeu a totalidade
da História humana e passou a ser compreendida e, posteriormente, dominada.
Descartes, influenciado pela “nova ciência” do século XVII, estabeleceu que
tudo que está na matéria e na mente tem que ser posto no campo da dúvida, para
que, a partir daí, comece a dar andamento em pesquisas até ser completamente
explicado: “Penso, logo existo”.
John Locke fez um ensaio da compreensão humana
definindo a “mesmidade” do sujeito racional. O indivíduo permanece com a mesma
identidade contínua, mesmo após sofrer as consequências de ser sujeitada pela
razão e suas práticas. Raymond Williams sintetizou essa sujeição e explicou que
a individualidade do sujeito pode ser relacionada ao colapso de ordem social,
econômica e religiosa medieval. No movimento contra o feudalismo, passou a dar
nova ênfase no sujeito submetido numa sociedade rígida, hierárquica. O
Protestantismo desafiou, postulou o indivíduo como entidade maior que a relação
mediada pela Igreja Católica.
Com Thomas Hobbes, o indivíduo só podia
entrar em relações econômicas se possuísse propriedade. Os sujeitos foram
transformados em conglomerados empresariais, segundo Adam Smith e Marx, enredando-se
nas maquinarias burocráticas e administrativas do Estado. Com Charles Darwin, o
sujeito foi “biologizado”. Agora, a
razão tinha uma base na natureza, “nada se perde ou se cria, tudo se
transforma”. A mente do sujeito pode ser estudada, pois tem um desenvolvimento
físico. Os sociólogos forneceram críticas sobre o sujeito cartesiano, em
consequência disso, descobriu-se que os indivíduos são formados através de suas
relações sociais. Teóricos, como Goffman, estavam atentos às diferentes
situações sociais e de como o “eu” é apresentado em diferentes situações.
Mas, foi só na primeira metade do século XX
que as ciências comuns assumiram sua forma disciplinar parecida com a atual,
era o surgimento do Modernismo. O indivíduo/sujeito passa a ser isolado, exilado
ou alienado, iniciando a partir daí a descentralização do sujeito. Marx é
reinterpretado na década de 1960, com a afirmação: “Os homens fazem a história
sob as condições que lhes são dadas”. Há uma essência universal de homem
alojada em cada sujeito individual, imposta por essas condições. Ao decodificar
essa essência, surgirá o homem perfeito, assim como ele já o é. É como semente
devidamente armazenada, pode passar o tempo que for, ao plantá-la, após ser
germinada, ela decifra seu código, dando o seu fruto segundo a sua espécie de
sua essência.
Freud descobre o inconsciente do sujeito e
para ele, a subjetividade é o produto de processos psíquicos inconscientes. Já
para Lacan, a criança inicia relações com sistemas simbólicos, não no
inconsciente, mas, fora delas. A identidade é algo formado ao longo do tempo e
não é algo inato. O sujeito está sempre incompleto, com partes femininas e
masculinas, por imposição ou não, mas dando andamento para que o indivíduo
venha a ser preenchido a partir de forças exterior do indivíduo.
Filósofos modernos afirmam que o sujeito
individual não pode fixar significado de sua identidade de forma final. A
identidade não é fixa, mas estável, pois, tudo tem um antes e um depois,
fugindo ao controle da identidade fixa. Michel Foucault produziu uma espécie de
genealogia do sujeito moderno destacando o poder disciplinar desse sujeito,
como, prazeres, infelicidades etc... O interessante é que, embora o poder
disciplinar seja produto dessas “manifestações tardias”, como o feminismo,
revoltas estudantis, movimentos juvenis, lutas pelos direitos civis e outros
movimentos da década de 1960, especialmente 1968, individualiza ainda mais o
sujeito e envolve mais intensamente o seu corpo, pois, todas as pessoas que
estão sujeitas ao controle são individualizadas pelas relações do poder, pois
cada um desses movimentos apelava para uma identidade social diferente,
controlada por seus sustentadores. O feminismo apelava às mulheres, a política
social aos grupos LGBT, as lutas raciais projetavam suas expectativas nos
negros e assim por diante. Essas lutas individuais contribuem para a política
do nascimento histórico de uma identidade para cada movimento político.
CONCLUSÃO
Assistimos, diariamente, intelectuais, de
suas áreas específicas, digladiarem-se para autoafirmarem suas defesas
políticas individualistas, de suas opiniões, próprias ou de massa. Um exemplo
disso é a discussão travada entre os deputados, Jean Wyllys e Jair Bolsonaro,
sobre casamento entre homossexuais. Entretanto, o fato do (a) meu/minha vizinho
(a) ser gay e querer se casar com outro (a) homem/mulher, não degenera nenhuma
heterossexualidade, assim como a heterossexualidade não degenera a
homossexualidade de ninguém.
É preciso aproveitar o momento e aprender a
viver com as diferenças dos sujeitos e de seus discursos, reconhecendo os
direitos que eles têm, como indivíduos, de ser, ou não ser, o que desejam
ser. Já não é mais essa a questão que
precisa ser pensada: “Ser ou não ser?” – Antes, devemos lutar por um mundo mais
justo e sem discriminação de espécie alguma.
Mas, é preciso haver, nesse contexto, o
reconhecimento da honra, pois, quem é reconhecido como indivíduo, sente-se
honrado. Até os homens perversos desejam ser honrados. Entretanto, por exemplo,
que honra pode haver num avô pedófilo? A honra no indivíduo, em todos
os tempos, deve ser medida. A perversidade do sujeito, como indivíduo, não pode
vencer a sua honra. Viver livre na sociedade é ser livre da desonra. A honra é
bem vinda em todos os lugares. Sempre que o sujeito der lugar à desonra, ele, certamente, estará em trevas, e, quem estiver em trevas, só conseguirá
tatear na busca pela sua razão individual e coletiva.
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