sexta-feira, 11 de novembro de 2016

UM CONTO

"UM CONTO"


"Coroné" Justiniano era o real comandante do povo pernambucano. Residente em São Romão. Cidadezinha de nada, perdida pelo agreste. Mas, muito da visitada era a casa da Celeste. É. Celeste era a proprietária, inclusive, das meninas, pois, sem nada ter de otária, arrendava o que elas tinha. As moças eram trazidas do Rio, Belo Horizonte, e por Celeste, vestidas e treinadas. Alí, ó, era fonte! Fonte de renda tão lucrativa que até mesmo o coroné, sendo homem ainda na ativa, quis conhecer o tal bordel e, quem sabe, até provar de uma que apetecesse, né? Celeste será que ia cobrar? Talvez não, por interesse... 

– Mulé, eu vou à Recife e talvez druma por lá! – Foi isso o que ele disse para a mulher dele, dona Iná. Botou de banda uma capanga e lá se foi pro zoeiro. Chegou, escolheu uma franga, sem nem falar em dinheiro. Rosinha tinha dezoito, mas nem isso aparentava. O coroné, então, já afoito, mostrou a arma que usava. E perguntou para a Rosinha:

– Será que tu aguenta? - Ela deu uma risadinha e disse:

– Ó, isso aí não tem pimenta!

Eram quase nove horas quando o coroné entrou. Entre os despois e os agora, meia noite chegou. Na sala, um só comentário do coroné e a apunjância: – Chiii... Rosinha num calvário e o coroné na abastança... No quarto, os dois já cansados, suor nascendo e pingando, o coroné de olhos vidrados. Rosinha só consolando: 

– Calma, coroné, calma! O senhor consegue! Não fica aflito, não. Óia, vai me alisando, alisando, que o senhor esquenta o rojão!

Até alta madrugada, Rosinha bem que tentou. Tudo ela fez, tudo, tudo, tudo, e nada, nada resultou... Coroné Justiniano lhe perguntou:

– Quanto é? Ficamo aqui um ano e eu não gritei Evanhoé!

Rosinha, sem se afobar pelo dia já nascer, pensou em nada cobrar. Mas, depois de padecer:

– Coroné, eu tenho um preço que depende do serviço. Eu nem sei quanto é que eu mereço por esse nosso enguiço, mas eu já dei uma pensada... e o meu preço já tá... já tá pronto! Se eu puder contar é nada, mas se eu não puder contar é um conto.

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Poema de Chico Anysio

Gravação de 2006, no programa da TV Cultura, "SR. BRASIL", de Rolando Boldrin. O artista Chico Anysio contou vários causos, juntamente com o apresentador Rolando Boldrin. Vale a pena ver. Sou fã desses caras. 
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Escrito por Álvaro Pensativo

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