1 DÚVIDA METÓDICA DE RENÉ
DESCARTES - “COGITO, ERGO SUM” PENSO, LOGO EXISTO.
Essa frase “Cogito, ergo
sum”, não veio de uma “revelação iluminada”, nem mesmo foi criada por “inspiração”
de alguém que acordou pela manhã e olhou para um ponto fixo na parede e, como
não tinha nada a dizer, disse: Penso, logo existo. Essa frase foi a conclusão certa
e segura da pesquisa científica de René Descartes sobre a Teoria do Conhecimento.
René Descartes (1596-1650),
nascido em La Haye, Tauraine na França e falecido em Estocolmo, na Suécia, onde
dava aulas de filosofia e de ciências à rainha Cristina. Se tornaria um dos
filósofos mais importantes do século XVII e XVIII, influenciando a formação e o
desenvolvimento da filosofia moderna, destacando o texto “Meditações
metafísicas”, sua obra filosófica mais importante. Grandes
filósofos como Locke, Hume e Kant utilizaram suas teorias e princípios. Por
estas razões, ele é frequentemente chamado de o pai da filosofia moderna.
Seu ponto de partida para a
frase em estudo consistiu-se em adotar a posição cética, radicalizando ao ponto
de levar às suas últimas consequências para então mostrar ao adversário que se
trata de uma posição insustentável, descartando tudo que não tiver uma fonte
confiável, surgindo assim a dúvida hiperbólica (Exagerada). Toda a filosofia
posterior sofreu influência do filósofo, assumindo uma tendência idealista,
isto é, uma tendência a valorizar a atividade do sujeito pensante em relação ao
objeto pensado.
Descartes foi um
racionalista convicto e recomendava que desconfiássemos das percepções
sensoriais (audição, tato, paladar, olfato, visão), dos sonhos e da imaginação,
pois seriam responsáveis por frequentes erros do conhecimento humano, são
verossímeis (que parece verdadeiro). Dizia que “o verdadeiro conhecimento das
coisas externas devia ser conseguido através do trabalho lógico da mente”. Para
Descartes, o conhecimento tem que ser o conhecimento certo e sua essência do
método consiste em começar com preposições que podem ser intuídas como claras e
verdadeiras para deduzir delas o resultado passo a passo.
Os ingredientes são
dois: Intuição e Dedução.
Intuição: A capacidade de
perceber diretamente, pela mente a verdade simples.
Ex: O triângulo tem três lados.
É fácil observar essa verdade pelo que Descartes chamava de “luz natural da razão”.
Dedução: A capacidade de
mover a verdade simples para outra verdade, quando a primeira implica na
segunda.
Ou seja, intuição é tudo de
uma vez, enquanto dedução, segundo Descartes é como a intuição em movimento, é
sucessiva. Ele dizia:
“O menor motivo de dúvida
que for encontrado bastará para rejeitar todas. E para isso, não é necessário
que examine cada uma em particular, o que seria um trabalho infinito, mas cisto
que a ruína dos alicerces carrega consigo todo o resto do edifício,
dedicar-me-ei inicialmente aos princípios sobre os quais todas as minhas
antigas opiniões estavam apoiadas”. (DESCARTES).
Porém, isso lhe trouxe um
problema, pois ele pensava na intuição como uma capacidade inata (ideias que nascem
com as pessoas) e assumiu que ela é
confiável de modo que o intelecto não pode cometer erros se for usado
corretamente. Porém, Descartes era receoso da censura religiosa, por causa da
condenação de Galileu Galilei e muitas outras coisas, o que pode ter ocasionado
uma não publicação do aprofundamento desse seu trabalho, tendo como
consequência a posteriore, que suas ideias foram contestadas pelo filósofo John
Locke que mostrou que a nossa capacidade é empírica (ideias adquiridas através
da experiência das sentidos) e por isso não poderia ser inata.
Descartes acreditava que a
natureza funcionava como uma máquina e tudo o que existe nela poderia ser traduzida
em equações, contudo, antes precisou encontrar um ponto de apoio firme.
Procurou derrubar velhas crenças e falsas opiniões e impressões enganosas e
começou a duvidar de tudo que acreditava e então pensou:
“Como posso ter certeza de
que eu estou aqui sentado diante do fogo? ...Como posso ter certeza de que
essas mãos são minhas? ... Os loucos chegam a acreditar que são reis e quantas
vezes eu sonhei que estava nessa cadeira, vestindo essa roupa... Mas mesmo sonhando,
devo admitir que dois mais dois são quatro e que um quadrado tem quatro lados.
Será que eu encontrei uma verdade? ... Mas e se um Deus enganador, se um gênio
maligno colocou todas essas verdades em minha cabeça? ... Como posso ter
certeza de que tudo isso é um engano?”. (de Vivianne Mosé sobre Descartes)
Depois de derrubar todas as falsas impressões,
Descartes chegou a seguinte conclusão:
“Posso duvidar de tudo, mas
tenho a certeza de que estou aqui, pensando, duvidando. Sou uma coisa que
duvida, que pensa: Cogito, ergo sum/Penso, logo existo”.
Debaixo dos escombros,
Descartes encontrou um ser que pensa, que usa a razão. A verdade não estava
mais no saber dos grandes mestres. A razão é o único instrumento que o homem
poderia utilizar para entender o mundo. A única coisa confiável. A partir daí,
Descartes reconstruiu toda a sua visão do Universo e isso representou uma
revolução na História do pensamento.
O Método de Descartes foi
proceder de forma matemática, primeiro estabelecendo os princípios
fundamentais, para a seguir derivar deles suas consequências. Dessa forma,
utiliza-se o método rigoroso do raciocínio matemático, ele esperava construir, “sobre
bases firmes e sólidas”, um edifício filosófico que ficasse imune à
controvérsia fútil que havia caracterizado a filosofia que aprendera na escola.
Também consiste o método, na
realização de quatro tarefas básicas:
Certificar-se se existem
evidências reais e que não deixem dúvidas acerca do objeto de estudo. Isso
significa em não aceitar algo como verdadeiro sem conhecê-lo de fato, isto é,
evitar com cuidado qualquer opinião ou engano a ponto de excluir qualquer
possibilidade de dúvida.
Dividir ao máximo as coisas,
em suas unidades, e estudar as partes mais simples que surgirem. Trata-se de
dividir o problema em tantas partes quantas fossem necessárias para melhor
poder resolvê-lo.
Sintetizar e conduzir por
ordem os meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis
de conhecer, para subir pouco a pouco, gradualmente, até o conhecimento dos
mais compostos; e admitindo uma ordem mesmo com aqueles que não apresentam
nenhuma ligação entre si.
Enumerar todas as conclusões
e princípios utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento, ou seja, fazer
enumerações tão completas, e revisões tão gerais, que tivesse certeza de nada
ter omitido.